Jalapão

próprias pessoas do quilombo falem! Para que as jovens dessa comunidade transmitam, para o mundo, o que eles têm a dizer sobre o Cerrado. Para nos ensinar que o Cerrado não é só bioma, paisagem, ambiente, ecossiste - ma. É território de vida, de história, de ancestralidade, de identidade. No quilombo do Mumbuca, as pessoas gostam muito de cantar. Em geral, reúnem-se e cantam canções que falam de esperança, de vida, de sentimentos bons. Este livro é uma forma de canto. É formado pelas vozes unidas de jovens do Quilombo, que produziram imagens e narrativas sobre o lugar em que vivem e sobre a importância desse lugar. Este livro é, também, um espaço de confluências. Toda essa caminhada, de aprendizado do começo ao fim, ocorreu porque houve a presença de outras duas mulheres. Força e afeto. Ana Mumbuca e Rebeca Viana, dois universos que confluem, ora se tocam, ora se distanciam, mas cami - nham na mesma direção. Não há qualquer dúvida de que a concretização de tudo o que se encontra nessas páginas deve- se também, e principalmente, a elas, além das autoras mumbuquenses, claro! Meu desejo é de que você, leitora ou leitor, e toda pessoa que se preocupa com a perspectiva de um mundo ambientalmente mais justo e equitativo, tenha pessoas como Rebeca e Ana Mumbuca ao seu lado.

Sonhar com um mundo ambientalmente melhor tem sido a tônica desses tempos de emergências climáticas e mudanças globais. O que a Mumbuca nos ensina é que esse mundo não precisa ser sonhado. Ele existe! Ele é constru - ído todos os dias pelos povos tradicionais e habitantes do Cerrado, em suas práticas cotidianas, no lidar com a natu - reza e seus organismos. Longe de ser uma visão piegas e sentimental, irreal ou idealizada, ela é uma realidade bem concreta. Enquanto nós, cientistas e pessoas das cidades, discu - timos teorias e abordagens para tratar os desafios ambien - tais, essas pessoas trabalham conservando seu ambiente e valorizando seu território, de forma objetiva, prática e efeti - va. Por sobrevivência, por manter viva e presente sua iden - tidade, sua história e ancestralidade. São povos do Cerrado. A evidência de tudo isso encontra-se explícita nas páginas desta obra. O livro é, ao mesmo tempo, um tributo e um chamamen - to. Nossa homenagem - de todas as autoras e os autores - às pessoas do quilombo Mumbuca que fazem parte dessa história, desde aquelas que já se foram até aquelas que fazem parte do presente, antigas e novas gerações. Além de quem já citamos, nossa homenagem ao Seu Dió e Maurício, que fazem tanta falta. Nosso reconhecimento também ao

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