Aqui, o objetivo principal é oferecer algo que esteja à altura das pessoas sem as quais minha carreira, incluindo os títulos acadêmicos, não existiria. Não se pretende “dar voz” ou “falar sobre” o conhecimento ou saberes dos moradores da Mumbuca e do Prata. Muito menos, desvelar 12 ou ostentar qualquer tipo de “descoberta” sobre a biodiversidade ou acerca das relações interespécies que no Jalapão se costuram. A intenção é somar forças às propostas de construção de conhecimento que sejam éticas e comprometidas com as justiças e as diversidades no Cerrado. E que estejam dispostas a construir alianças leais o suficiente para sustentar-se diante dos tempos daqueles que não se submetem à tirania de Chronos 13 . Serão apresentados, em três capítulos, os resultados de projetos de pesquisa realizados dentro das abordagens de pesquisa participativa e da coprodução de conhecimento 14 . As pesquisas foram realizadas por pesquisadores e pesqui - sadora em diferentes momentos de sua formação acadêmi - ca como biólogos. O primeiro capítulo, O Cerrado das crian- ças do Jalapão , se refere ao trabalho de iniciação científica de Marco Faria 15 , cujo foco foi evidenciar as percepções das crianças do Quilombo Mumbuca e do Quilombo Povoado do Prata sobre o Cerrado. Para isso, buscou-se identificar espaços e elementos de brincadeiras por meio de desenhos das próprias crianças. A pesquisa foi realizada entre 2011
e 2012 e contou com a colaboração de professores e pro - fessoras de duas turmas de 3o., 4o. e 5o. anos da Escola Estadual Silvério Ribeiro de Matos e da Escola Municipal Miguel Rodrigues de Sousa. Ambas são escolas quilombolas; a primeira, está na Mumbuca e a segunda, no Povoado do Prata. Já em Saberes e Fazeres do Quilombo Mumbuca: ati - vidades de ensino desenvolvidas por professores da Escola Estadual Silverio Ribeiro Matos , Ronaldo Santos apresenta parte dos resultados do mestrado no qual, em colaboração com os docentes da Mumbuca, mediou a produção de uma série de sequências didáticas que iluminam e inspiram a in - trodução de perspectivas quilombolas ao contexto de sala de aula 16 . Já no último capítulo, Ensinando e aprendendo sobre o Cerrado: o olhar de jovens do Quilombo Mumbuca , apresento o ensaio de “imagens-narradas” sobre o Cerrado coproduzidas por jovens da Mumbuca durante minha pes - quisa de doutorado 17 . Jalapão: Cerrado Vivo , inclusive, é um produto idealizado por estas jovens e por suas mais velhas, que sonharam um livro. O título foi inspirado na criatividade de uma delas, Marta Larisa Tavares, quando solicitou que o conjunto de suas imagens fosse batizado “cerrado vivo”. O prefácio foi escrito por Ana Mumbuca, uma das mais importantes pensadoras de nossos tempos (e de outros tempos também). Ter suas palavras aqui é um privilégio e
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