Jalapão

2) A referência: Quem são os referenciais? Os lidos como analfabetos, os considerados irracionais? O conhecimento das crianças, dos jovens, dos velhos não escolarizados, dos macacos, dos burros, das formigas — eles devem fazer parte da narrativa, não como informantes, mas como protagonistas do saber. 3) Metodologia: De que jeito são feitas a pesquisa e o feitio que define o resultado? Primamos por com - partilhamento, onde quem pesquisa também é pes - quisado. É preciso permitir-se ser envolvido, assim como fomos envolvidos. Este livro é um convite contínuo a quem viaja pelo mundo das escritas e decide manter o envolvimento, a ponto de fazer com que “alguém” que não é da escrita compreenda e ressignifique esse universo. Na nossa concepção contra-colonial, o que se coloca em questão são as atitudes que geram movimentos práticos, afetivos e resolutivos. Com isso, rompe-se com o colonialis - mo e se fortalece a ancestralidade.

nosso modo de vida compartilhado e secreto, em comuni - cação com o que a natureza nos oferece — desde os plan - tios até a colheita dos frutos. Por gerações, os quilombos têm suas vidas registradas na fala. Sabemos de acontecimentos de gerações anterio - res por meio das memórias faladas. Este livro é um registro excepcional, que prova que também sabemos transformar palavras em escritas, rabiscos em desenhos, paisagens sig - nificativas em fotografias. Parabéns a todas as pessoas en - volvidas — este é um resultado indescritível. Sinto orgulho de nós, e a certeza de que, pedagogicamente, vamos chegar a outros biomas, outras culturas. Este livro é pura imagem poética de uma existência, que antes era inimaginável. O mais bonito é perceber, tanto no Prata quanto em Mumbuca, os olhares de dentro e os olhares dos organizadores — uma composição de visões que gera uma apoteose existencial. Temos persistido para viver o propósito que se materia - liza neste livro Jalapão: Cerrado Vivo . São três aspectos que buscamos, com muito esforço, garantir — em publicações sobre nós: 1) A concepção: Qual a cosmovisão que guia a obra? É colonial, descolonial, decolonial ou contra-colonial?

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