Jalapão

de jovens do Quilombo Mumbuca sobre o Cerrado por meio da produção de fotografias autorais e narrativas associadas. Este é um método participativo de pesquisa que, na litera - tura acadêmica, é chamado de fotovoz 2 . Iniciamos, então, um trabalho intenso de engajamento que incluiu, em 8 viagens a campo, muitas rodas de conversa; a produção de um protocolo colaborativo de ética na pesqui - sa, quando as participantes decidiram seriam nomeadas co- -pesquisadoras ; oficinas preparatórias; um projeto piloto; e, finalmente, em janeiro de 2016, as expedições fotográficas que resultaram na narrativa visual aqui apresentada. Durante o processo da pesquisa, percebemos a necessidade de trazer algum recurso que permitisse um fluxo contínuo e individual de reflexões sobre o Cerrado. Desenvolvemos, então, o que apelidamos de caderninhos , fortemente inspiradas no que academicamente chama-se de diários solicitados 3 . Partimos de uma demanda local relacionada ao treino das habilidades de escrita que se revelou inovadora como espaço individual de auto-reflexão. Ou seja, o conjunto de imagens-narradas 4 a seguir é parte de um intenso processo de elaboração sobre o Cerrado tecido de forma compartilhada e artesanal. As imagens foram captadas por 13 co-pesquisadoras e 1 co-pesquisador no chuvoso mês de Janeiro. Nessa oca - sião, as câmeras fotográficas 5 disponíveis ao projeto foram

cer.ra.do 2 1. fechado 2. apertado 3. encoberto de nuvens 4. espesso; compacto 5. mata de vegetação herbácea e árvores pequenas, tortuosas e de casca grossa, típica do planalto central O trabalho a seguir foi desenvolvido como um proje - to para doutoramento, realizado entre 2015 e 2019. Vínhamos de uma jornada anterior de pesquisa de mestrado junto ao Quilombo Mumbuca e, nesse momento, rascunhá - vamos duas propostas: (i) continuar a conhecer o Cerrado a partir das perspectivas quilombolas e (i) nos aprofundar em ferramentas e habilidades específicas para compartilhar o fazer da pesquisa e educação em biodiversidade. A partir daí, iniciamos a trajetória com quem mais tínhamos contato: as mais velhas que, então, nos forneceram um recorte. O projeto deveria ser realizado com jovens 1 do Quilombo. De minha parte, já havia um interesse em aprofundar sobre a perspectiva da produção de imagens como ferramenta de pesquisa; nas rodas de conversa iniciais, percebemos que a fotografia era um interesse compartilhado. O projeto se de - lineou, a partir daí, à proposta de centralizar a perspectiva

2 As definições que antecedem cada subitem deste ensaio foram retiradas do “Minidicionário Houaiss da Língua Portuguesa”. 3a. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008

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