não alimentar
N.93
No vasto universo da higiene e beleza, há mais do que simples rotinas de cuidado: existe uma heran- ça e uma identidade que atravessa gerações. E Por- tugal é terra de marcas com memória. Claus Porto, Ach. Brito, Barral, D’AVEIA e Yntenzo provam que tradição e inovação podem caminhar lado a lado, criando produtos eficazes que também contam his - tórias. E, por isso mesmo, a história destas marcas também merece ser contada. A magia do tempo Comecemos por duas verdadeiras instituições da saboaria portuguesa, Claus Porto e Ach. Brito, “ir- mãs” de história e de legado. Mais do que nomes de prestígio na cosmética de luxo e saboaria artesanal, são embaixadoras de um património raro, espelhos de um Portugal que soube manter a sua identidade e elegância, mesmo em tempos de mudança. Com mais de um século de história, preservaram o seu ADN, reinventaram-se quando necessário e distin- guiram-se num sector muitas vezes nivelado pela massificação. Num mercado global e acelerado, a Claus Por- to continua a afirmar-se através de três pilares es - senciais: tempo, verdade e consistência, como nota porta-voz da empresa quando questionamos sobre o segredo da sua longevidade. “O tempo, porque a Claus Porto é o somatório dos seus 138 anos de história e de tudo o que a trouxe até aqui. Poucas marcas atingem esta longevidade, atravessando regimes, guerras mun - diais, pandemias e ciclos económicos de toda a espécie, sem perder vitalidade, pertinência, reconhecimento e po - tencial” , salienta. “E também porque as marcas de luxo precisam de tempo para estabelecerem a sua identidade, na medida em que o seu estatuto está profundamente en - raizado na história, no património, na manualidade e na exclusividade, fatores que não podem ser alcançados de um dia para o outro” . A verdade, acrescenta, reside na “viagem no tem - po” , algo que marcas mais recentes não conseguem oferecer, aliada à “excelência da substância dos produ - tos, da sua função, dos seus ingredientes, dos aromas e das embalagens” . De facto, desde 1887, todas as co-
leções e produtos da Claus Porto são inspirados no seu acervo gráfico, um arquivo visual precioso fortemente enraizado na cultura única do Portu- gal pré-republicano e na estética opulenta da Belle Époque europeia. É aí, nos “livros de tesouro” da mar- ca, álbuns de etiquetas e selos desenhados ao longo de décadas, que a equipa criativa encontra inspira- ção para novos produtos ou imagens. Este acervo, que foi crescendo desde a criação da Claus Porto, atingiu um dos seus períodos mais criativos duran- te as décadas de 20 e 30, tendo os seus produtos e design sido objeto de vários prémios na primeira Exposição Colonial Portuguesa, que teve lugar no Porto, em 1934. Aliás, o design da Claus Porto continua a ser re- conhecido internacionalmente, como demonstram os prémios da coleção Musgo Real, fruto de uma colaboração com o atelier português White Studio. As embalagens refletem a autenticidade e a riqueza cultural da marca, mas sem parecer datada. “Desde o início que temos vindo a criar uma filosofia de auten - ticidade e um incrível portefólio de rótulos coloridos de - senhados à mão e padrões de design, cada um com a sua personalidade única. Os nossos sabonetes são embalados manualmente e todos os nossos produtos continuam a ser fabricados de acordo com tradições consagradas pelo tempo, combinando décadas de experiência com fórmu - las contemporâneas enriquecidas com os melhores ingre - dientes” , sustenta. E assim chegamos à consistência, que nasce do respeito por todo o percurso feito, “ou pelo tempo” , nota a mesma fonte. “Os valores da marca sempre fo - ram, e continuam a ser, os mesmos: história, autentici - dade, artesanalidade, qualidade e sentido de família” . Mas nem sempre o percurso foi linear. A Primei- ra Guerra Mundial obrigou os fundadores alemães, Ferdinand Claus e Georges Schweder, a abandonar Portugal. A Claus & Schweder foi nacionalizada e acabou adquirida pela Ach. Brito. Anos mais tarde, na década de 70, novos desafios surgiram com o fim do mercado das ex-colónias, a entrada de marcas estrangeiras e a modernização da distribuição. Em 1994, Aquiles de Brito, bisneto do fundador da Ach. Brito, assumiu a empresa aos 22 anos, num período exigente e de “decisões difíceis” . E em 2022, reacen- deu-se o compromisso familiar, com a reaquisição total da Ach. Brito. De facto, ao lado da história da Claus Porto, a Ach. Brito trilhou o seu caminho, complementan- do o conto de excelência artesanal. Fundada, em 1918, por Achilles de Brito, então saído da Claus & Schweder, juntamente com o irmão, a Ach. Brito conquistou rapidamente a atenção dos consumido- res portugueses, “atraídos pelas fórmulas inovadoras e pelas embalagens apelativas que Brito havia introduzido na Claus & Schweder” , desenvolve. Sete anos depois, em 1925, a Ach. Brito adquiria os ativos da então na- cionalizada Claus & Schweder, incluindo a fábrica original e os respetivos equipamentos, formalizan-
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