Grande Consumo N.º 93

packaging

N.93

A economia circular é o novo paradigma que deve nortear políticas públicas e decisões empresariais. “Não basta reciclar mais. É preciso produzir menos resíduos, consumir de forma mais consciente e fechar verdadeiramente o ciclo dos materiais”

A crise climática, o esgotamento de recursos natu- rais e a necessidade de reduzir emissões de carbo- no estão a pressionar governos e empresas a agir com celeridade. Pedro Simões, country manager da Novo Verde, alerta: “a reciclagem é parte fundamental da transição ecológica. Não é só uma questão ambiental, é também económica e estratégica” . Para o responsável da entidade gestora de resí- duos de embalagens, a economia circular é o novo paradigma que deve nortear políticas públicas e de- cisões empresariais. “Não basta reciclar mais. É pre - ciso produzir menos resíduos, consumir de forma mais consciente e fechar verdadeiramente o ciclo dos mate - riais” . Adicionalmente, “é preciso regular” , reconhece Pedro Simões, que, no entanto, avisa: é necessário que a burocracia associada — diga-se os reportes — não seja inibidora da ação. Da lixeira à economia circular: três décadas de evolução No caso específico dos resíduos, a reciclagem foi pioneira, nomeadamente nas embalagens. Pedro Simões dá como exemplo o seu início de carreira, na década de 90, em que já havia preocupação a ní- vel ambiental. O executivo lembra que o sector das embalagens está presente cada vez mais na econo- mia e no quotidiano, pelo que é normal a preocupa- ção, quer ao nível da produção de resíduos, quer ao nível da colocação no mercado enquanto consumo. Algo que, aponta, coincidiu com o encerramento das lixeiras e a criação dos confinamentos técnicos (os aterros). Olhando para trás, verifica-se que, desde a déca - da de 90 que Portugal tem vindo a construir um sis- tema mais robusto de gestão de resíduos. O encer- ramento de lixeiras, a construção de unidades de tratamento e a implementação da recolha seletiva transformaram o panorama nacional. “Tínhamos li - xeiras espalhadas pelo país e começava-se a falar em con - finamento técnico como solução de transição. Não havia incineradores e as estações de tratamento mecânico-bio - lógico eram um sonho” , recorda. O país evoluiu, com a instalação dessas estações a permitir a recuperação de plásticos, metais, papel e, mais recentemente, vidro. O composto orgânico, estabilizado, passou a ser usado na selagem de aterros — uma das muitas inovações de um sector que evoluiu muito, mas que ainda enfrenta barreiras. Pedro Simões lembra que “há 20 anos, o destino final era quase sempre o aterro. Hoje, existe uma rede funcional que permite recuperar embalagens, metais, papel, plásticos e até matéria orgânica” . O executivo acrescenta que, tendo em conta que, na altura, não havia incineradores em Portugal, “os confinamentos técnicos eram a melhor solução disponível” . Desde essa altura o cenário mudou. Portugal evoluiu, com a instalação de estações de tratamen- to mecânico-biológico, porque, como aponta Pedro

Simões, ainda há muito lixo que não é separado e é depositado como indiferenciado. “Estas estações de tratamento permitem a recuperação desses materiais, valorizando” . São plásticos, metais, algum vidro e também papel e cartão, embora apenas o plástico e os metais se consigam separar facilmente nessas unidades. A matéria orgânica é, depois, aproveita- da para fazer composto ou valorização orgânica. A sua utilização pode ser aplicada, por exemplo, na selagem de aterros. Houve também uma grande evolução em ter- mos de indústria. “Uma alteração muito significativa, falando só das embalagens, ao nível das especificações técnicas” , refere o country manager da Novo Verde, que lembra que, na altura, a indústria permitia re- ciclar material com algum nível de contaminação, na ordem dos 6% (nalguns até 10%). Hoje, os siste - mas municipais que recolhem e fazem a triagem dos materiais nos ecopontos conseguem prepará- -los com uma qualidade muito elevada. “Estamos a enviar produtos para reciclagem com, no máximo, 3% de contaminantes” , explica. A reciclagem começa no design Mas, nota Pedro Simões, “a economia circular só fun- ciona se quem coloca produtos no mercado pensar no seu fim de vida” . O conceito de eco-design — projetar em- balagens que sejam recicláveis e que tenham bom desempenho ambiental — é central na nova gera- ção de políticas ambientais e está refletido no novo regulamento europeu de embalagens (PPWR). A montante, os produtores fabricam as embala- gens numa ótica de condicionamento do produto, de rentabilização e de imagem. O importante, ex- plica o country manager da Novo Verde, é perceber se, quando essa embalagem se tornar resíduo, vai

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