packaging
N.93
Rotulagem é o próximo desafio O novo regulamento europeu exige que as embala- gens comuniquem com o consumidor sobre onde devem ser colocadas. Mas o espaço nos rótulos é limitado e a multiplicidade de componentes com- plica a mensagem. “Temos de explicar que uma emba - lagem com janela de plástico e corpo de cartão pode ter dois destinos diferentes. E isso nem sempre é fácil” . Pelo que defende uma campanha nacional coordenada de sensibilização, apoiada por todas as entidades gestoras e pelo Estado. A reciclagem não é apenas uma questão de am- biente, é uma questão económica e de soberania de recursos. Pedro Simões defende que Portugal deve olhar para os resíduos como ativos. “Quando recicla- mos mais, importamos menos. Quando recuperamos ma - teriais, reduzimos emissões. E quando envolvemos todos os agentes, tornamo-nos mais resilientes” . O executivo aponta ainda que a meta de neutra- lidade carbónica em 2030 não será atingida apenas com boas intenções. “É preciso trabalhar todos os dias. As empresas já perceberam que ou evoluem, ou perdem competitividade” . A diferença entre uma economia que recicla porque quer e uma que recicla porque é obrigada poderá ditar o sucesso ou fracasso da transição ecológica. O caminho está traçado. A pergunta é: estamos dispostos a percorrê-lo juntos e com a urgência que o planeta exige? A meta de neutralidade carbónica em 2030 não será atingida apenas com boas intenções. “É preciso trabalhar todos os dias. As empresas já perceberam que ou evoluem, ou perdem competitividade”. A diferença entre uma economia que recicla porque quer e uma que recicla porque é obrigada poderá ditar o sucesso ou fracasso da transição ecológica
Digitalização e inteligência artificial: o futuro já começou Pedro Simões acredita que o futuro da reciclagem será moldado por tecnologias digitais. A Novo Ver- de já apoia projetos que recorrem à inteligência artificial para identificar embalagens nas linhas de triagem, com base em forma e material. “É possível melhorar a eficiência e reduzir perdas, o que é vital quan - do temos metas tão ambiciosas” . Sem esquecer toda a tecnologia existente na triagem da reciclagem. Como lembra o gestor, “pas - sámos de sistemas rudimentares e triagem manual para linhas automáticas com leitores óticos e algoritmos ba- seados em inteligência artificial” . O executivo aponta que a Novo Verde apoiou recentemente um projeto com a Lipor que integra câmaras com IA capazes de identificar materiais pelo formato e cor. “Isto per - mite melhorar drasticamente a separação de plásticos, metais e outros materiais valiosos” . Numa vertente mais técnica, há que considerar que separar os plásticos mistos continua a ser um dos maiores entraves à reciclagem eficiente. Mui - tos materiais são compósitos, com várias camadas e não têm fluxo de reciclagem definido. É o desafio dos plásticos mistos, cuja solução poderá estar na reciclagem química, que os transforma em maté- rias-primas através de pirólise. “Este processo permite obter plástico reciclado de alta qualidade, inclusive para contacto alimentar” , afirma Pedro Simões. Mais do que penalizar, é preciso reformar sistemas Portugal está longe de cumprir as metas euro- peias. Em 2025, deveria reciclar 65% das embala- gens, mas os números de 2024 apontam para ape- nas 50%. O vidro está ainda pior: a meta é de 70%, mas apenas 213 mil toneladas são recolhidas em 400 mil colocadas no mercado. “Alguma coisa tem de mudar” , diz, categórico. E propõe: “se atuarmos em 20% do problema — como o canal Horeca, no caso do vidro — podemos resolver 80%” , acrescentando que “precisamos de foco” . Apesar do discurso muitas vezes punitivo que surge em torno da falta de reciclagem, Pedro Si- mões defende uma abordagem estratégica. “Não se trata de fazer polícia uns dos outros. Trata-se de perce - ber onde está o problema e atuar aí. No caso do vidro, o canal Horeca é crítico. Os estabelecimentos não têm espaço ou condições para separar e é isso que temos de resolver” . E aqui as entidades gestoras assumem um pa- pel fundamental, nomeadamente como motor de inovação. Pedro Simões vê-as como plataformas de articulação entre produtores, recicladores, re- talhistas, cidadãos e administração pública. “O nosso papel é garantir que os ciclos se fecham, que há destino para os materiais e que há mercado para o re - ciclado” . Isso passa por apoiar novos projetos, fa- cilitar ligações e promover tecnologias como, por exemplo a reciclagem química.
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