Grande Consumo N.º 93

ting personalizado ao atendimento automatizado, da otimização logística à criação de novas experiên- cias nas lojas físicas. O que começou como piloto em grandes grupos retalhistas começa agora a de- mocratizar-se através de soluções modulares acessí- veis também às PME. A promessa? Um retalho mais eficiente, mais personalizado e, sobretudo, mais hu - mano, ainda que sustentado pela tecnologia. A de- mocratização da tecnologia e a dissolução do custo de acesso à tecnologia a funcionar. Esta combinação entre inteligência artificial, a sensibilidade e o conhecimento humanos é, aliás, o novo ponto de equilíbrio da experiência de com- pra e da negociação. Como nota um dos especialis- tas ouvidos nesta edição, “a IA é um analista júnior brilhante, mas ainda precisa de supervisão sénior”. Sem estratégia, literacia digital, sem esquecer a tão necessária ética, a tecnologia pode amplificar erros, enviesar decisões e gerar desconfiança. Com orien - tação certa, por outro lado, é um poderoso motor de inovação e diferenciação. Afinal, “people buy from people that they trust”. E não há máquina ou algo - ritmo que altere isso. Mas o caminho, todavia, está longe de ser linear. A ausência de estratégias claras, a escassez de ta- lento para saber dialogar com a máquina, a inte- gração com sistemas ligados e a resistência cultural à mudança (é a natureza humana, afinal) são obs - táculos reais, especialmente entre os operadores de menor dimensão. Sem esquecer o desafio ético, que se impõe com urgência: é fundamental garantir a transparência dos algoritmos, a explicabilidade das decisões e a conformidade com os valores dos consumidores, que, como revelam os estudos, estão prontos para a IA, desde que com ética e benefício claro. E mesmo com os impactos que isso pode ter nos atuais modelos de empregabilidade, sociais e económicos. O futuro, ainda em construção e ajuste, ao que tudo indica, será feito de lojas movidas por IA, deci- sões alimentadas por dados, assistentes digitais que interagem naturalmente com os clientes e experiên- cias hiperpersonalizadas que cruzam o físico com o digital. Mas será também um futuro em que a lite- racia digital das equipas, a governação dos dados e a responsabilidade na adoção tecnológica marcarão a diferença entre quem lidera e quem fica para trás. O lado humano e a ética a guiarem a mais profunda transformação tecnológica da história. Assim o es- pero, pelo menos. É neste contexto de mudança estrutural, mas si- lenciosa, que nasce esta edição. Porque a verdadei- ra disrupção não está na tecnologia em si, mas no modo como se aplica e tira partido do que foi cria- do. Porque o retalho do futuro não se constrói ape- nas com código, mas com visão. E porque, mesmo com toda a inteligência artificial do mundo, conti - nuamos a comprar com a cabeça. E a decidir com o coração.

Editorial BRUNO FARIAS brunofarias@grandeconsumo.com

Não só de código se faz o futuro do retalho

Durante décadas, o retalho viveu da intuição, da proximidade da relação comercial e de folhas de cálculo. O talento humano na sua profunda dinâ- mica a funcionar e a sobrepor-se à tecnologia com resultados tangíveis. Hoje, essa lógica cede lugar a algoritmos que aprendem, preveem e personali- zam, numa revolução que chegou sem grande ala- rido, mas que já está a reconfigurar e a moldar, em profundidade, o presente e o futuro do setor. A in- teligência artificial (IA) deixou de ser promessa de um amanhã tecnológico e analítico para se tornar uma infraestrutura. E Portugal, como mostram os dados mais recentes, não só está recetivo, mas entu- siasmado com esta transição, ainda que a mesma se apresente como exigente e repleta de desafios. A IA no retalho já não é uma opção futurista. É uma realidade transversal que vai da previsão de procura à gestão de stocks, aos planogramas para encontrar o melhor lugar em prateleira, do marke-

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