Grande Consumo N.º 93

opinião

N.93

Capítulo 5: O Discurso Final E aqui está a grande verdade: o verdadeiro poder da IA não está na tecnologia. Está na mitologia. No espetáculo. Na ideia reconfortante de que alguém, em algum lado, tem tudo sob controlo. A IA tem, sim, um potencial enorme — mas também falhas, enviesamentos, riscos e, acima de tudo, donos. Donos que decidem como, onde e porquê é usada. Só que muitos preferem não pensar nisso. É mais fácil acreditar no Feiti- ceiro. Ele tem voz grave, gráficos bonitos e um botão que diz “Otimize-se”. Tal como em Oz, não estamos perante um vilão — estamos perante alguém que sabe que o mais importante não é ser mágico. É parecer mágico. E, convenhamos, isso vende muito mais. Moral (com ironia extra) No final, percebemos que não precisamos de um Feiticeiro para nos dar aquilo que já temos: cérebro, coração e coragem. Cérebro para perceber que nem tudo o que diz “IA” é mágico (às vezes nem é inteligente). Coração para exigir que a tec - nologia sirva as pessoas — e não o contrário. E coragem para puxar a cortina, fazer perguntas desconfortáveis e recusar o deslumbramento acrítico. Porque em Oz, como no mundo real, nem tudo o que brilha é sabedoria. Às vezes é só um alguém com uma app nova e um ego do tamanho de um servidor da SpaceX.

Tudo é “inovador” , “transformador” , “ético” — desde que o inves- tidor goste.

A estrada de tijolos dourados é pavimentada com capital de risco, palestras TEDx e threads no Twitter escritas por “vi- sionários” de 20 anos que usam palavras como “disrupção ética colaborativa em tempo real” . Sim, soa a magia. E é. De palco. Os dados são colhidos com zelo quase religioso. A privaci- dade? Essa é um mito urbano, como o Pai Natal ou a neutrali- dade dos algoritmos. “Confia em nós” , dizem eles, com aquele sorrisinho de quem já está a vender a tua alma em formato de dados a três anunciantes e meio. Capítulo 4: O Feiticeiro de Oz (versão freemium) Finalmente, chegamos ao fim da estrada. Lá está ele: o Grande Feiticeiro da IA. Aparece entre fumo digital, luzes LED e pro- messas de “disrupção responsável”. Fala em tom grave, cheio de jargão técnico, enquanto desliza os slides de uma apresentação em PowerPoint chamada “O Futuro é Agora”. Garante que a sua IA é ética, imparcial e quase consciente — “agora com 15% menos enviesamento, e sem glúten!”. Mas Dorothy, curiosa como sempre, puxa a cortina. E o que encontra? Um tipo de hoodie , a alternar entre copiar códi- go do Stack Overflow, perguntar ao ChatGPT como lidar com exceções em Python e responder a investidores no Slack. Um artista da improvisação, mestre em parecer que sabe. Nada de magia. Só muito marketing , muita buzzword e um servidor escondido algures num armazém com ar condicionado.

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