consuetudinário”. Por outro lado, este conselho está sujeito à seguinte condição: “se, na prática, os pacientes são levados a entender que nenhum aspecto do que eles dizem sobre seu tratamento será divulgado a qualquer terceiro...então, inevitavelmente, os psicanalistas podem se expor a queixas admissíveis de violação do princípio de confiança se divulgarem qualquer informação gerada no decorrer do processo de tratamento, mesmo de forma anônima” (Proops, 2017, pp. 15-16). Uma sugestão prática relativa ao sigilo nas apresentações clínicas seria incentivar os autores que apresentarão ou publicarão material clínico a fazerem declarações do tipo ilustrado pelos exemplos imaginários acima (vide 3.1). Pode-se considerar essa prática análoga à divulgação de conflitos de interesse, que se tornou obrigatória nas publicações médicas. O propósito é duplo: por um lado, tais declarações poderiam motivar seus autores a avaliar de maneira mais completa o equilíbrio entre sigilo e compartilhamento científico; por outro lado, caso o paciente descubra que seu sigilo foi violado, poderiam oferecer uma explicação do motivo e uma possível ocasião para mais trabalho analítico. Como a busca pelo nome do autor na Internet é a maneira mais fácil e mais comum de pacientes e outros obterem acesso a publicações que podem conter informações privadas, uma maneira de proteger a o sigilo é publicar ou apresentar anonimamente ou usando um pseudônimo. Um exemplo da abordagem de “comunidade de interesse” seria incentivar a consulta a um ou mais colegas antes de incluir qualquer material em uma apresentação. 3.3 Em nível institucional: ensino Nem todos os institutos atualmente incluem discussões aprofundadas sobre questões de sigilo em seus treinamentos. A importância do sigilo no tratamento psicanalítico exige que os candidatos sejam alertados sobre essa questão no início de sua formação, identificando-a como um ponto chave em nossa prática. As seguintes propostas poderiam ajudar a colocar o sigilo como aspecto central da psicanálise desde os primeiros passos da formação do analista: ● Incluir um seminário sobre sigilo como parte do treinamento, com os seguintes objetivos: (a) conscientizar os candidatos desta questão desde o início de sua formação; (b) manter a questão viva em nossas mentes sempre que falamos de nossos analisandos; (c) promover a apresentação e discussão de material clínico no qual a proteção do sigilo seria um desafio; (d) facilitar a discussão das vantagens e desvantagens das diferentes maneiras pelas quais o sigilo pode ser protegido no compartilhamento de material clínico (disfarces, consentimento informado do ponto de vista psicanalítico, amálgamas de diferentes casos, autoria múltipla ou anônima etc.); (e) facilitar a discussão do ambiente regulatório legal e profissional local, com cenários sobre como proceder quando houver ou puder haver um conflito com o sigilo psicanalítico. ● Tornar a proteção do sigilo uma questão de preocupação regular e coletiva
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