que sejam criptografadas ou depois de serem descriptografadas. Se um telefone ou computador usado por um psicanalista ou por um paciente tiver sido comprometido, os dados não criptografados podem estar sendo copiados para terceiros por malwares que foram instalados sem o conhecimento do usuário. Assim, mesmo que a criptografia ‘ponta- a-ponta’ da rede seja boa o suficiente, a segurança do sistema de comunicação como um todo pode ser prejudicada por segurança de endpoint inadequada em uma ponta ou na outra. Uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco. Não está claro se seria possível fazer um sistema de telecomunicações capaz de garantir a privacidade absoluta . Em corporações, nas forças armadas ou nas agências do governo, com regulamentação rigorosa de hardware e software, é possível obter um grau relativamente alto de privacidade. Por exemplo, profissionais de saúde que trabalham em ambientes hospitalares ou para grandes organizações e que usam apenas dispositivos fornecidos e controlados pela organização às vezes conseguem obter tal grau de privacidade. Porém, o fato de ocorrerem violações de sigilo com regularidade mesmo em tais organizações demonstra que a privacidade alcançada ainda é limitada. Analistas que trabalham em relativo isolamento – por exemplo, em consultório particular – poderiam, teoricamente, obter resultados comparáveis, mas precisariam de recursos tecnológicos suficientes; tanto eles quanto seus pacientes precisariam manter uma disciplina rígida quanto ao uso de seus dispositivos; e precisariam adquirir um alto nível de conhecimento técnico especializado em segurança de computadores, que precisaria ser constantemente atualizado. Os psicanalistas geralmente não possuem (e relutam em buscar) o conhecimento técnico que precisariam para estabelecer ou manter tais sistemas; tampouco nossa cultura e prática profissional são compatíveis com o tipo de regulação social que seria necessário para usá- las. Mesmo se fosse possível adquirir e manter um sistema desse tipo, isso seria muito dispendioso financeiramente, e seríamos obrigados a sujeitar nossos pacientes e nós mesmos a um grau extremado de disciplina e controle ao usá-lo. Os pacientes seriam obrigados a instalar equipamento especializado caro (e, presumivelmente, arcar com os custos), além de aprender a usá-lo efetivamente. Talvez a dificuldade mais séria para muitos psicanalistas seja o fato de que a disciplina e o controle necessários dificilmente seriam compatíveis com o enquadre psicanalítico. Sempre e onde quer que as telecomunicações modernas façam parte dos meios de comunicação, a garantia da privacidade proporcionada historicamente pelo enquadre psicanalítico clássico deixou de estar disponível. 4.4 Perda da privacidade no enquadre clássico Grande parte da discussão acima presume implicitamente que o enquadre clássico ainda hoje continua a oferecer relativa privacidade em comparação com os ambientes de telecomunicação, mas a extensão e a gravidade do risco de espionagem são incertas mesmo no ambiente clássico contemporâneo. Sempre que o analista e o analisando estiverem fisicamente presentes no consultório, e se uma ou ambas as partes tiverem um telefone ou
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