Venda Proibida
Venda Proibida
funcionária”. Então essa área aqui tudo era de minha propriedade. Eu fiz essa vila, fui vendendo, são todos vizinhos muito bons. Eu vim pra cá, construí um barraquinho bem ruinzinho, mas era meu. Assim que eu vim pra cá, eu comecei a trabalhar pela comunidade. Eu entrei no GDF (Governo do Distrito Federal) trabalhando na Proflora, uma empresa de economia mista de reflorestamento aqui de Brasília. Eu era chefe de turma. Depois, quando Roriz chegou em Brasília, na época a gente discutia, discutia, e não conseguia êxito, e quando ele chegou, foi o primeiro fechamento de pista aqui na Fercal. Na mesma semana, nós tivemos o fechamento na frente do Buriti, que me colocaram presidente da Associação dos Servidores da Proflora. A gente começou a fazer esse movimento em cima dele. Fechamos aqui numa segunda-feira, deu Jornal Nacional, deu Fantástico, e lá foi numa sexta-feira. Quando a gente fechou aqui, ele pediu para vir na Fercal. Nós reivindicávamos tudo, porque nós não tínhamos nada: água, luz, telefone, segurança, escola boa… Isso na segunda-feira à tarde, que o fechamento foi de manhã. Quando foi terça-feira já estavam aí, poste chegando, perfuração de poço artesiano, porque o povo bebia água do córrego. E a gente nessa corrida toda… logo veio telefone, veio um monte de coisa. […]
Eu tive o privilégio de ser “a Tereza da Fercal” por conta de toda essa luta, mas eu sou essa mulher dona de casa, tranquila, amiga, que gosta de rir. Eu sou avó, minha neta é minha companheira, e é isso, a vida com a família… Então, a vida é boa demais, eu não canso de dizer, tudo eu devo à luta pela Fercal. Hoje, sou uma mulher aposentada, mas eu acho que a vida não encerrou só porque aposentei, não. Eu ainda tenho muita coisa pra fazer e, enquanto eu tiver vida, eu vou fazer. Tudo o que eu vivi na vida foi fruto de um sonho. Quando eu era menininha lá, aquela menina que brincava montada em cima dos bodes que via aqueles aviões, só a fumacinha passar, eu dizia: “Um dia eu vou andar num avião daquele”. E quando eu fui para o hotel, que a gente recebia muita gente de delegação de avião e tal, eu dizia: “Eu vou ser uma dessas pessoas, um dia”. Nesse hotel ficava muita gente do Projeto Rondon, que eu via aquele trabalho que eles faziam com as pessoas das periferias das cidades, eu dizia: “Um dia eu quero ser igual a eles, eu quero fazer o que eles fazem”. E foi assim, eu tenho um sonho e não vou sair dele, então eu não fui fissurada por causa desse sonho, eu conquistei ele, assim, devagar, mas não tão lento, porque a vida é passageira. Disponível em: <https://museudapessoa.org/ wp-content/uploads/2021/06/Livro-MP-FERCAL- MIOLO-rev.pdf>. Acesso em 4/dez/2021.
O MUNDO EM HISTÓRIAS No panorama atual, é comum que as pessoas se encontrem imersas e aturdidas diante de tudo: as rápidas transformações tecnológicas, o excesso de informações, as pressões sociais, o consumo… A sensação é a de que, muitas vezes, estamos sendo levados pelos acontecimentos do cotidiano. E aí se mergulha em afazeres, se resolvem as cobranças mais urgentes, e a diversão acontece quase que por obrigação. Diante disso, refletir sobre si e sobre a própria relação com o mundo, apesar de ser uma ação fundamental, acaba se tornando um luxo. Mas isso é importante porque pensar e ponderar sobre a própria história e sobre a relação dela com o mundo mais próximo faz refletir sobre questões muito básicas, como identidade, senso de pertencimento e, especialmente, sobre responsabilidades.
Em grupo, converse com seus colegas sobre o texto de Tereza Ferreira da Silva, retirado do Museu da Pessoa: 1. Primeiro, localize as informações básicas. a. Sobre quem se fala? b. Quem fala sobre essa pessoa? c. Onde se passa boa parte do relato? 2. Você compreendeu os episódios relatados? Converse com o (a) professor(a) sobre alguns trechos. O que esses trechos dizem sobre a cultura e os costumes da época e do lugar? a. “Aí ele mediu. Mediu 800 metros, e ele: Não, mede 3 mil metros lá para ela, que ela foi uma boa funcionária.” b. Depois, quando Roriz chegou em Brasília, na época a gente discutia, discutia, e não conseguia êxito, e quando ele chegou, foi o primeiro fechamento de pista aqui na Fercal. 3. Apesar de a história ser autobiográfica, contada pela própria narradora, é possível ver que há componentes individuais e componentes coletivos nela. a. Que episódios da vida pessoal ela narra? b. Que relatos envolvem mais gente e que, provavelmente, também estão na memória de outras pessoas? 4. De que maneira a trajetória pessoal de Tereza se entrelaça com a história de seu entorno?
Para ver este e outros textos do Museu da Pessoa, acesse o QR-Code a seguir:
1 o ANO
UNIDADE 1 - QUEM SOU EU?
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