Nº 51 - Revista Economistas - Março

RE: No livro economia para a Transformação Social, você defende, junto ao professor Pedro Linhares Rossi, que o desenvolvimento deve ter um propósito e que seus motores devem ser a distribuição e a infraestrutura social. Quais são as vantagens deste modelo? JF: Sou crítica a uma ideia comum de que não há crescimento sem distribuição de renda. O período militar mostrou o contrário: é possível crescer concentrando renda, dependendo de qual setor vai mobilizar o crescimento. Mas, apesar de não serem necessárias ao crescimento, a distribuição de renda e a infraestrutura social agregam potência ao crescimento econômico. O que determina o investimento é a demanda, e a demanda é uma função da renda. Portanto, se há distribuição de renda, há aumento da demanda e do investimento, que é a principal variável de crescimento sustentável. A infraestrutura social pensa no bem-estar coletivo, que não é um somatório do bem-estar individual, mas um sistema de bem-estar social. Os espaços comunitários, de lazer, as praças, os centros integrados de juventude, as escolas, universidade, lavanderias públicas, creches comunitárias, inclusive a libertação de parte do trabalho de reprodução social que acaba recaindo sobre as mulheres e causando uma série de dificuldades de melhor inserção no mercado de trabalho. Às vezes a renda pode até ser menor, mas

a quantidade de serviços que uma pessoa acessa mais do que compensam. E isso aponta para uma sociedade em que as pessoas convivem mais, socializam mais, interagem mais. A infraestrutura social também é isso. RE: Um dos maiores problemas que a economia brasileira enfrenta são as desigualdades sociais – que envolvem temas como desigualdade de renda, regional, de gênero, racial, entre outras. Que medidas ou que políticas você recomendaria para a redução das desigualdades no Brasil? JF: Dentro do capitalismo sempre vai haver desigualdade, mas penso que é com a combinação de políticas universais com políticas focalizadas, em que o planejamento estatal atua de forma prioritária. Políticas universais são aquelas que melhoram a vida de todos, como é o caso da política de valorização do salário mínimo, da formalização do mercado de trabalho, do aumento de vagas no ensino superior e do fortalecimento da seguridade social. Ao mesmo tempo, tem que ter políticas focalizadas para diminuir a extrema pobreza, como é o caso do Bolsa-Família, ou políticas de ações afirmativas para incorporar mulheres e negros nas universidades e nos concursos públicos. Não se combate a desigualdade só com políticas focalizadas, nem só com políticas universais, mas com um mix destes dois elementos.

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