Nº 51 - Revista Economistas - Março

acontecendo entre economistas que hoje ocupam espaços importantes no governo, que debatiam se a indústria era um fim ou um meio. A finalidade da economia é gerar bem-estar, garantir a execução dos direitos humanos, buscar uma sociedade com a maior possibilidade de exercício pleno da democracia econômica, com acesso integral e universal aos direitos. Para isso a indústria não é o fim, é o meio. Ela garante que uma economia consiga sustentar estes direitos a partir da geração de renda, oportunidades de trabalho, restrição das vulnerabilidades externas, geração de bens públicos e serviços que sejam capazes de atender a estes direitos. A política industrial é guiada por missões, em que a indústria é o meio, e cada missão tem uma palavra muito importante: "para". A primeira missão se chama “Cadeias alimentares para garantir soberania nacional”. A segunda, “Avançar no complexo econômico industrial da saúde para fortalecer o SUS e o acesso à saúde integral”. A ideia da indústria é melhorar o SUS, o sistema de saneamento, corrigir o desequilíbrio ambiental, construir uma nova matriz energética e uma indústria que seja menos intensiva em recursos naturais, fortalecer as cadeias agroalimentares para garantir a erradicação da fome. Neste sentido, é uma política muito bem desenhada.

RE: Entre os recursos anunciados para o plano, R$ 250 bilhões virão do BNDES. Que impacto eles terão em termos de crescimento e diversificação econômica para o Brasil e qual a importância do Banco para a realização de projetos considerados estratégicos? JF: Quando falamos disso, afirmamos duas coisas: primeiro, que o BNDES é muito importante, e ainda bem que este banco não foi destruído. Segundo, ele passou por um processo de criminalização muito grande, alvejado pela suposta existência de uma caixa preta. O BNDES perdeu a Taxa de Juros de Longo Prazo que utilizava para financiar setores estratégicos ou portadores de futuros. É um banco que financia investimentos com a Taxa de Longo Prazo, que hoje está pari passu com a Selic. Só existe taxa de juros subsidiada para inovação e digitalização, por autorização do Congresso Nacional. E ainda assim, de maneira comprimida: no máximo, 5% do lucro do Banco. Pelo menos 80% destes R$ 250 bilhões serão financiados a taxas de mercado. Além disso, hoje o BNDES não recebe recursos do Tesouro Nacional. Então, é um programa que custará muito pouco. Hoje os Estados Unidos financiam sua política industrial, da ordem de trilhões de dólares, com taxas subsidiadas. Todos os países sabem que, para se posicionar na geopolítica mundial, vão precisar que os Estados subsidiem setores estratégicos que têm capacidade de gerar mais empregos e progresso técnico.

Se fôssemos um país pequeno, sem mercado consumidor, sem recursos, poderíamos pensar numa inserção externa exportadora de produtos primários para importar produtos industrializados. Este não é o caso do Brasil, que tem uma vocação para ser um grande país o mais autossuficiente possível."

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