Nº 51 - Revista Economistas - Março

mais inteligente, e isso é algo mais complexo do que o sistema brasileiro, que trata tudo como se tivesse a mesma origem e o mesmo instrumento. RE: Segundo dados da FIESP, a produção industrial brasileira teve aumento de 0,2% em 2023, mas ainda está 16,3% abaixo do pico histórico da série, atingido em maio de 2011. Como você vê a importância destes números? JF: A indústria é um elemento extremamente importante para o desenvolvimento de qualquer economia, pelo potencial de encadeamento. Mesmo para transformar máquinas em máquinas, ela vai precisar de energia, minério, matérias primas, fornecendo um produto que será destinado àquela economia, além de demandar serviços acessórios como tecnologia da informação, design, contadores, economistas, entre outros. Um emprego diretamente vinculado ao setor industrial tende a gerar vários empregos indiretos. Além disso, a indústria gera os empregos mais qualificados, internaliza progresso técnico, gera soberania e reduz a vulnerabilidade à dinâmica internacional. A reversão da desindustrialização não é fácil, envolve uma série de instrumentos, mas não está em questionamento a importância de o Brasil se reindustrializar como forma de garantir o crescimento sustentado e gerar empregos de qualidade. Se fôssemos um país pequeno, sem mercado consumidor, sem recursos, poderíamos pensar numa inserção externa exportadora de produtos primários para importar produtos industrializados. Este não é o caso do Brasil, que tem uma vocação para ser um grande país o mais autossuficiente possível. RE: Em janeiro foi lançado o plano Nova Indústria Brasil, com previsão de R$ 300 bilhões em investimentos até 2026. Entre elogios e críticas, alguns afirmam que está alinhado com a política industrial que se pratica em países desenvolvidos, enquanto outros criticam o excessivo peso do Estado. Qual a sua visão sobre o programa? JF: Ele está bastante alinhado com o debate de fronteira sobre política industrial. É o amadurecimento de um debate que vinha

porque boa parte da renda deles é direcionada para bens de primeira necessidade. Os serviços custarem mais caro numa economia como a brasileira significa que os salários estão subindo. Neste caso, ao conter a inflação com juros, você aborta um processo de aumento da renda do trabalho. E há o elemento de curto e longo prazo. Por exemplo, se todos destinarem 100 reais de sua renda para beber cerveja, haverá uma pressão de demanda e um aumento de preços, mas também um estímulo, porque haverá empresários pensando em como lucrar vendendo cerveja. Se houver um aumento da taxa de juros para corrigir a inflação, será interrompido um processo de crescimento econômico que poderia ser mobilizado com o aumento do investimento industrial em fábricas de cerveja. São sinais contraditórios. Uma certa complacência com a meta de inflação pode ser

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