Nº 51 - Revista Economistas - Março

Por isso as economistas feministas se deparam com uma difícil tarefa, que é ao mesmo tempo intelectual e política, mas também tensionada com o perigo da censura acadêmica, o ostracismo universitário e o falecimento profissional. Dadas as condições adversas apresentadas pela natureza metodológica e pela construção ideológica da disciplina, a crítica feminista à economia e o surgimento de uma economia feminista ainda estão em processo de construção. Isso, inicialmente, assume forma nas tentativas de integrar uma análise de gênero e a contribuição econômica das mulheres dentro de paradigmas existentes. Mas tais tentativas levaram à percepção de que “encaixar (as mulheres) na análise existente não funciona” (COHEN, 1982:99). A proposta da economia feminista é repensar o pensamento econômico com o objetivo de melhorar as condições econômicas das mulheres, a teoria econômica e as políticas que nela se fundamentam. O principal argumento que sustenta esse objetivo é que a maior parte das bases e recomendações de políticas econômicas está fora de lugar e de tempo.

Tais políticas são produto de uma determinada época em que foram concebidas e desenvolvidas e do sexismo presente em nossas sociedades. A economia é considerada como algo distante das lutas sociais e políticas e, especialmente, do movimento feminista. As contribuições da economia feminista para a teoria econômica, assim como para outras disciplinas, têm quatro componentes fundamentais: i) dar visibilidade às mulheres como sujeitos, legitimando suas experiências e perspectivas; ii) reconhecer e entender as desigualdades entre mulheres e homens; iii) modificar a teoria, a metodologia e as práticas da disciplina econômica; iv) desenvolver um método que inclua todas as pessoas. A partir dessa perspectiva, várias iniciativas importantes merecem destaque, a exemplo do enfoque da economia solidária, do trabalho no campo e a presença significativa das mulheres na agricultura familiar, o significado do enorme contingente de mulheres envolvidas com o trabalho doméstico no Brasil e número relevante de mulheres

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