Nº 51 - Revista Economistas - Março

ARTIGO

Economia do Cuidado: potenciais desperdiçados

POR LIA LOPES

Em outubro de 2023 a economista norte- americana Claudia Goldin ganhou o Prêmio Nobel de Economia por sua pesquisa sobre a disparidade de gênero (gender gap) e a participação das mulheres no mercado de trabalho, tornando-se a terceira mulher a receber esse prêmio em seus 54 anos de existência. Com mais de três décadas de investigação científica, a pesquisadora e professora do departamento de economia da Universidade de Harvard apresentou em seus estudos fatores que explicam a desigualdade salarial entre homens e mulheres ao longo da história. Um deles está relacionado à maternidade, especialmente no retorno da licença após o nascimento do primeiro filho, impactando diretamente a carreira profissional das mulheres ao conciliarem as demandas de cuidado materno com as responsabilidades do trabalho. Outro fator está ligado ao uso da pílula anticoncepcional, que permitiu às mulheres terem certo domínio hormonal de seus corpos para melhor planejar suas formações acadêmicas e profissionais, dedicando mais tempo ao trabalho e postergando a gestação e a formação de suas famílias. O terceiro está relacionado à demanda dos empregadores por horas extras de trabalho e à disposição dos empregados em trabalhar além do horário comercial (conhecido como greedy work - trabalho ganancioso). Como as mulheres geralmente são responsáveis pelo trabalho doméstico e pelo cuidado com familiares (trabalho reprodutivo não remunerado), isso as impede de competir com aqueles que têm disponibilidade para fazer horas extras e ascender na carreira.

Além disso, Goldin analisou 200 anos da evolução histórica do desenvolvimento econômico global e descobriu que o crescimento econômico não resultou em uma maior participação feminina no mercado de trabalho, muito menos na diminuição da desigualdade salarial. Em seu livro Understanding the Gender Gap (1990), ela aponta que mulheres e homens ocuparam postos de trabalho e tiveram remunerações aproximadas apenas na época da revolução industrial (1820-1850), devido à alta demanda das fábricas por mão de obra. Durante a pandemia de Covid-19, Goldin continuou analisando a participação das mulheres no mercado de trabalho e verificou que a flexibilidade da jornada, graças ao avanço da tecnologia (trabalho remoto), é um importante mecanismo de promoção da equidade de gênero no trabalho. O trabalho remoto possibilita que as mulheres trabalhem em casa, evitando deslocamentos e otimizando o uso do tempo para conciliar as atividades domésticas e familiares com o trabalho remunerado, ampliando a participação feminina no mercado de trabalho. No entanto, estudos já apontam que essa sobrecarga de atividades realizadas pelas mulheres está ocasionando prejuízo à saúde física, mental e emocional delas, com o aumento do nível de exaustão e cansaço e, consequentemente, improdutividade. Estes dados explicam porque atualmente apenas 50% das mulheres estão ativas no mercado de trabalho, em comparação com 80% dos homens. As dificuldades que as mulheres enfrentam para trabalhar no mercado e realizar as atividades de

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