Nº 51 - Revista Economistas - Março

Embora o mês de março se revele oportuno para se tratar do tema das desigualdades de gênero e o mercado de trabalho configure uma das esferas privilegiadas para realização dessa discussão, a verdade é que as transformações céleres no mundo laborativo expõem e reafirmam, diariamente, a necessidade de análises com esse recorte. As mudanças delatadas por fatores como o rápido avanço digital, a automação e a plataformização do trabalho colocam em perspectiva o debate sobre as novas características e limitações da geração de emprego; tópico ainda mais delicado em países como o Brasil, cujo histórico de conformação do mercado de trabalho – marcado por elevada heterogeneidade estrutural e informalidade (BARBOSA, 2008) – adiciona elementos mais complexos à equação. Sem pretender pormenorizar a discussão acerca da substituição do trabalhador pela máquina, faz-se necessário reconhecer a existência de “profissões do futuro” (SCHWAB, 2016), ou seja, de ocupações que já têm experimentado ascensão

na demanda por trabalhadores e, em especial, nas quais se percebem maiores remunerações. Quando se analisa a geração de emprego por essa perspectiva ocupacional, ou seja, levando-se em conta o maior potencial de criação de vagas e melhores salários por determinadas atividades, necessita-se, ainda, problematizar com maior afinco a questão de gênero. Apesar do avanço da participação feminina no mercado de trabalho formal (e informal), as segregações horizontais (dificuldade de inserção das mulheres em determinadas áreas) e verticais (limitação do acesso feminino a dados cargos) persistem, atestando a reprodução das desigualdades no tecido social e econômico, no Brasil e no mundo (WEF, 2023a). Atividades ligadas às ciências (sobretudo da computação), matemática e engenharias, por exemplo, constituem nichos que respondem por uma demanda ascendente de profissionais no marco da Revolução 4.0. Por outro lado, as projeções também apontam para a menor probabilidade de substituição pela máquina em funções intrinsicamente humanas, relacionadas

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