Nº 51 - Revista Economistas - Março

A maior parte das profissões elencadas como ascendentes pelo relatório estão relacionadas à tecnologia da informação, às engenharias e a cargos de gerência. Nesse sentido, a segregação setorial desfavorece às mulheres, visto que nessas atividades sua participação é historicamente diminuta."

Portanto, os dados mostram que as mulheres compõem a maioria, tanto no conjunto das ocupações mais propensas à automação quanto no das menos propensas. Adicionalmente, é relevante apontar que as informações evidenciam o que previamente denominou-se de segregação horizontal, ou seja, uma espécie de concentração em determinadas atividades, e que deriva da existência de papéis de gênero. Em geral, a presença feminina historicamente encontra-se relacionada às atividades de cuidado, tipicamente percebidas como feminilizadas, a exemplo das relativas à saúde, à gestão de recursos humanos e ao ensino. Outro ponto importante a ser observado é que há uma tendência generalizada de subvalorização das atividades dominadas por mulheres, tradicionalmente ligadas ao cuidado, e que requerem competências relacionadas às habilidades sociais e cognitivas (ABREU et al, 2016). “Uma questão-chave aqui é o retorno relativo sobre o tempo e esforços investidos às funções que exigem diferentes habilidades técnicas, pois há um risco de que os serviços pessoais e outras categorias de trabalho atualmente dominados por mulheres continuarão sendo desvalorizados” (SCHWAB, 2016, p. 50). Prosseguindo com a reflexão acerca das perspectivas futuras para as distintas profissões, o “Future of Jobs Report – 2023” (WEF, 2023b) promove uma análise do movimento e rotatividade do mercado de trabalho, sob égide das transformações tecnológicas. O relatório estima que entre 2023 e 2027, 83 milhões de empregos serão perdidos no mundo, ao passo que 69 milhões

terão sido criados, resultando numa perda global de 14 milhões de ocupações. Também são expostas algumas das profissões em ascendência e, de outro lado, das que se encontram em declínio. É difícil compatibilizar as ocupações listadas no referido relatório com as que se encontram disponíveis na Classificação Brasileira das Ocupações (2002), tendo em vista que algumas nem sequer existiam quando da criação dessa classificação. Mas, para a análise pretendida, foi realizada uma tentativa de obter uma aproximação de tais profissões (seja pela categorização de “família de ocupações”, ou por outra mais detalhada, que corresponde a de “ocupações”) a fim de se avaliar como se encontra a representação feminina dentro dessas no Brasil. A maior parte das profissões elencadas como ascendentes pelo relatório estão relacionadas à tecnologia da informação, às engenharias e aos cargos de gerência. Nesse sentido, a segregação setorial desfavorece as mulheres, visto que nessas atividades sua participação é historicamente diminuta (WEF, 2023a), e os dados da Rais de 2021 permitem atestar a persistência dessa representação minoritária (embora possivelmente tenha melhorado ao longo do tempo, o que não constituiu objeto desta análise, em razão de limitações de espaço ). O Gráfico 1 mostra que apenas nas ocupações de “professores da educação especial”, “professores do ensino superior” e “gerente de marketing”, as mulheres compuseram maioria entre os empregados. Também cumpre destacar que, em pelo menos nove ocupações, a participação

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