Nº 51 - Revista Economistas - Março

Desafios e conquistas A jornada de uma economista além dos padrões

SHIRLEY BASILIO

Quando nos deparamos com o universo dos economistas, é comum pensarmos em figuras masculinas que moldaram o campo ao longo da história. De acordo com a pesquisa do professor Francis Petterini, em 2020, 67,9% daqueles que se candidataram a um programa de pós- graduação em economia eram homens e 60% dos candidatos eram brancos. Corrobora para esta percepção geral o relatório da Associação Econômica Latino-Americana e Caribenha (Lacea, 2023) que mostra que, no Brasil, apenas 36% dos alunos de graduação são mulheres, caindo para 23% em programas de mestrado. Temos ainda um levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, que aponta que apenas 54,5% das mulheres com 15 anos ou mais integravam a força de trabalho formal no país, contra 73,7% dos homens. Aqui estamos avaliando o mercado de trabalho de forma geral. Quanto mais apontamos a lupa para as cadeiras de lideranças, maior fica a discrepância entre gêneros. As estatísticas constatam o que observamos na prática: dados apresentados no “Panorama Mulheres 2023”, estudo realizado pelo Insper e Talenses Group no Brasil, mostram que apenas 17% dos cargos de CEO são ocupados por mulheres, o que se refere a diretoras, vice-presidentes e membros de conselhos. Se o exercício for ampliado para um olhar racializado, os números chegam a ser constrangedores: das mulheres nos cargos de CEO, 75% são brancas e 18% são pardas/negras. O desafio de tratarmos a pauta da diversidade, tanto de gênero quanto a racial, surge não como um assunto da moda ou que tenha seu impacto passageiro, mas como uma mudança estrutural de médio e longo prazo, visto que o cenário atual também não foi construído de um dia para o outro. Permitam-me contar um pouco da minha própria história - enxerga- da por muitos como a exceção que confirma a regra. Sou mulher negra, executiva, mãe, esposa, filha - a segunda entre 8 irmãos. Iniciei minha trajetória profissional aos 14 anos e me formei economista numa época em que ter o diploma universitário ainda era raro, principalmente por ter escolhido uma carreira majoritariamente masculina e predominante- mente branca.

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