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os enactments como situações em que um analista é surpreendido pelo seu próprio comportamento contratransferencial aparentemente inadequado. Mais tarde, o analista pode aperceber-se das ligações entre o seu comportamento, a indução emocional da parte do paciente e os seus próprios factores pessoais. Jacobs (1991, 2001) clarificou mais o termo enactment , dando-lhe ênfase e popularizando-o. Utilizou este termo para um evento específico em análise, em que a psicologia de um dos participantes é encenada face-a-face com o outro. O que ele procurou transmitir foi a ideia de que enactments são comportamentos do paciente, analista ou de ambos, que emergem como respostas a conflitos e fantasias despertados em cada um deles pelo trabalho terapêutico em curso. Embora ligados à inter-relação entre Transferência e Contratransferência, estes comportamentos associam-se também, através da memória, a pensamentos, fantasias inconscientes e experiências da primeira e segunda infância. Portanto, para Jacobs, a ideia de enactment contém no seu interior a noção de reenactment , isto é, o reviver de partículas e fragmentos do passado psicológico de ambas as partes na situação analítica. O conceito de enactment de Jacobs traz ressonâncias da noção algo paradoxal de Winnicott (1963) de que, se a análise corre bem e a transferência se aprofunda, o paciente levará o analista a falhar para com ele, na área da omnipotência infantil normal, isto é, na transferência. Todavia, Jacobs não foi o primeiro. Hans Loewald tinha usado o termo anteriormente, em “Psychoanalysis as an Art and the Fantasy Character of the Psychoanalytic Situation” (1975). Loewald escreveu que “… [o] processo em que paciente e analista estão envolvidos um com o outro… implica uma re-encenação [ re-enactment ], uma dramatização de aspectos da história da vida psíquica do paciente, criada e apresentada em conjunto com, e dirigida pelo, analista”. (p. 278-9) O paciente e o analista co-criam ilusão dentro da neurose de transferência. O paciente toma a liderança na recriação de fantasias, como numa peça de teatro. O papel do analista é multidimensional. Ele (ou ela) tanto é encenador(a) como representa diferentes personagens na vida do paciente. O paciente e o analista são co-autores desta dramatização, que é experienciada tanto como fantasia como realidade. Em vez de simplesmente assumir os papéis, o analista reflecte de volta a imagem deles e eventualmente o paciente ganha acesso à sua vida interior assumindo gradualmente a direcção de cena e a escrita do argumento. A “imitação da acção em forma de acção” de Aristóteles seria, em termos psicanalíticos, tanto re-enactment como repetição. Schafer (1982), na altura colega de Loewald, também acreditava que diversas narrativas do self ou “roteiros” podiam ser reconhecidas como versões diferentes da história básica de um analisando, representadas com um analista (p.ex. representações de enclausuramento, de renascimento ou de rivalidade edipiana). Sandler (1976) chamou a atenção para a indução mútua entre os membros de uma díade e as reacções espontâneas dadas pelo analista aos estímulos inconscientes do paciente, a que chamou receptividade ao papel.
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