Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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que dois tipos fundamentalmente diferentes de processos psíquicos tomam parte na formação dos sonhos. Um deles produz pensamentos oníricos perfeitamente racionais, de não menor validade que o pensamento normal enquanto que o outro trata esses pensamentos de uma maneira que é, no mais alto grau, desconcertante e irracional” (Freud 1900b, p. 635). Processo primário e processo primário inconsciente simbólico dos sonhos são caracterizados pelo livre trânsito de energia psíquica, que passa desimpedida por meio dos mecanismos de condensação e deslocamento. Devido à liberdade com a qual a energia pode ser transferida, ideias intermediárias, que se assemelham a compromissos, são construídas por meio de condensação. A realidade limitada às leis lógicas do pensamento - o processo secundário e sua linguagem simbólica- não é aplicada ao processo primário. Acima de tudo isso se aplica à lei das contradições. Ideias contraditórias existem lado a lado sem se anularem. Elas podem se combinar de maneira que nunca seriam toleradas pelo pensamento consciente. Finalmente, no processo primário, ideias transferem suas intensidades de uma para outra, permanecendo em “frouxas relações mútuas” (ibid., p. 634). Enquanto Freud iniciou atribuindo à censura o papel decisivo nos processos irracionais do inconsciente, ele acabou por concluir que o processo primário se coloca ao lado dos pensamentos lógicos da consciência. Os processos irracionais, ele escreve, “são os processos primários . Eles aparecem onde quer que ideias sejam abandonadas pela catexia pré-consciente, deixadas a si próprias e possam tornar-se carregadas com a energia não inibida do inconsciente, que se está esforçando por descobrir um escoadouro” (ibid., p. 643-644). Assim, o processo primário é um modo de funcionamento na vida psíquica, livre das inibições do pensamento consciente. O processo primário deve ser entendido como um princípio organizador existente na vida adulta normal, alternativo ao processo secundário dominante organizado lógica e verbalmente com sua linguagem simbólica comunicativa. Uma característica importante de processo primário é a tolerância à ambiguidade e à contradição. Outra é a característica alucinatória, disfarce do desejo em um ato perceptivo no presente (Freud, 1912a). Assim entendido, o processo primário é um processo cognitivo, que difere substancialmente da definição de cognição em psicologia cognitiva. Foi, no entanto, em seus textos metapsicológicos que Freud (1915 a, b, c) sistematizou o conceito do inconsciente em seus pressupostos econômicos, dinâmicos e topográficos. Em “O Instinto e suas Vicissitudes” (Freud, 1915a), os instintos são definidos como um conceito no limite entre os reinos físico e mental. Em “Repressão” (Freud, 1915b), Freud distingue entre repressão primária , que é “uma primeira fase de repressão, que consiste em negar entrada no consciente ao representante psíquico (ideacional) do instinto.”(Freud, 1915b, p. 171), e “repressão propriamente dita” , a “pressão posterior”. Em "O Inconsciente" (1915c), a teoria topográfica alcança seu zênite. Freud inicia revendo o conceito de um inconsciente dinâmico , que exerce força contrária ao ato de repressão . Ele prossegue estabelecendo a existência do inconsciente através de seus derivados: parapraxias, sintomas e sonhos, e demonstra que sentir, pensar, lembrar e fazer também estão, principalmente, sob a influência de derivados inconscientes. Freud faz uma distinção entre atos latentes , que estão temporária e apenas descritivamente inconscientes , e podem se tornar conscientes conectando-se com uma palavra e processos e conteúdos reprimidos , os quais são

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