Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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permanentemente inconscientes, e dinamicamente mantidos fora da consciência (correspondendo ao inconsciente dinâmico). Não há "ou-ou" no inconsciente; o processo primário e suas características – telescópica, deslocamento e condensação - aplicam-se igualmente ao inconsciente como havia descrito no “processo do sonho” quinze anos antes. Freud postula a presença de duas censuras: uma entre os sistemas Ics e Pcs que, em certas circunstâncias, pode ser contornada e uma segunda entre os sistemas Pcs e Cs. Emoções, sentimentos e afetos são excluídos do Ics. Diz-se que um afeto esteve "inconsciente" somente após a conexão entre a ideia reprimida e a emoção ser restaurada. Depois de apontar os diferentes modos de funcionamento dos sistemas consciente e inconsciente, Freud discute os processos de tornar-se consciente e aqueles de tornar-se inconsciente . Ele fornece duas hipóteses alternativas: 1) a tese de uma inscrição em dois lugares, e 2) a tese de uma mudança funcional. Quando uma ideia psíquica é transposta do inconsciente para o consciente, ele questiona se isso significa que temos um “registro novo – por assim dizer, um segundo registro - da ideia em questão… paralelamente à qual o registro inconsciente original continua a existir. Ou, antes, devemos acreditar que a transposição consiste numa mudança no estado da ideia, mudança que envolve o mesmo material e ocorre na mesma localidade?” (Freud, 1915c, p. 200). A primeira hipótese é topográfica e, portanto, ligado à separação topográfica dos sistemas consciente e inconsciente. Sugere que uma ideia pode simultaneamente existir em duas localidades no aparelho psíquico e, a menos que sofra resistência pela censura, pode passar de um sistema para outro. A hipótese baseia-se no pressuposto de que a interpretação poderá criar uma conexão entre as duas inscrições localizadas respectivamente nos sistemas inconsciente e pré-consciente. A experiência mostra, no entanto, que nem sempre é esse o caso. O caráter do inconsciente é bem diferente do que comunicamos em palavras ou, como Freud escreveu, a informação dada ao paciente sobre sua memória reprimida não necessariamente vai colocá-lo em contato com o traço da memória inconsciente: "Ouvir algo e experimentar algo são, em sua natureza psicológica, duas coisas bem diferentes, ainda que o conteúdo de ambas seja o mesmo" (ibid, p. 202). Um exame mais detalhado do mecanismo de repressão, entendido como uma retirada de investimento (catexia) favorece a segunda hipótese. Freud, em seguida, aborda a questão sobre em que sistema a retirada ocorre e a qual sistema a energia retirada pertence. Procedente de sua experiência que uma ideia reprimida mantém seu investimento, ele conclui que apenas o investimento pré- consciente pode ser retirado da ideia. Colocado de maneira diferente, a repressão é um processo que pertence ao pré-consciente. Assim, o que acontece durante a repressão é uma retirada da energia mental (catexia) da ideia pré-consciente, preservando o investimento inconsciente. Isto é consistente com a segunda hipótese, a saber, que neste caso a transição entre o sistema inconsciente e o sistema pré-consciente/consciente não consiste em um novo registro, mas de uma mudança em seu estado, ou seja, uma mudança na qualidade da energia mental dedicada a isso. Ambas as hipóteses servem para chamar a atenção para a coexistência de dois processos contraditórios que exigem duas explicações diferentes. A hipótese de registro em dois locais pode ser adequada para ilustrar o processo de tornar-se consciente, enquanto a hipótese de mudança funcional é apropriada para descrever o processo de repressão apontando para uma assimetria entre tornar-se consciente, por um lado, e repressão, por outro.

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