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ativada, a memória procedural gera uma antecipação inconsciente do estado de espírito futuro. Segundo Siegel, isso tem particular relevância para o trauma precoce, como “experiências repetidas de terror e medo que podem ser entranhadas nos circuitos cerebrais como estados mentais. Com a ocorrência crônica, esses estados podem tornar-se mais prontamente ativados (recuperados) no futuro (e assim) constituírem traços característicos do indivíduo“ (Siegel, 1999, p. 33). A sinaptogênese e a mielinização axônica continuam no córtex Orbitofrontal até o segundo ano de vida. Após este período de pico da neuroplasticidade do aprendizado emocional dependente da experiência, os “modelos de trabalho” de relacionamentos tendem a manter seu caráter. No entanto, o córtex Orbitofrontal tende a reter um grau notável de neuroplasticidade ao longo da vida e é possivelmente através desta via que, em profundidade, a terapia psicanalítica pode ter um impacto neurobiológico: “A psicoterapia intensiva pode ser vista como uma reconstrução e reestruturação das memórias e das respostas emocionais que foram incorporadas ao sistema límbico” (Andreasen, 2001, p. 331). A discussão em curso sobre a natureza dinâmica das primeiras impressões implícitas não reprimidas permanece uma controvérsia duradoura, com implicações para o trabalho clínico. Uma perspectiva (Clyman, 1991; Fonagy, 1999; BCPSG, 2007) vê as primeiras impressões como codificações procedurais cognitivas do "self-com-outro", análogo a andar de bicicleta. Nestes termos procedurais estritos, a reencenação da transferência ocorre porque alguma característica da relação analítica é suficientemente semelhante a um procedimento "modelo de trabalho” relacional já formulado, de modo que este estímulo - um processo automático sem motivação – provoque um padrão procedural de relacionamento. A mudança pode ser alcançada através de "momentos de encontro", não necessariamente interpretáveis. Considerando que, no paradigma dinâmico de Shevrin, intenções inconscientes e expectativas, além do contexto e das demandas da situação atual, ajudam a determinar exatamente como e o que será recuperado. “A recuperação nunca é simplesmente automática e desmotivada…” (Shevrin, 2002, p. 137). Shevrin propõe que "memórias procedurais", enquanto não reprimidas e não simbolizadas inconscientemente, ainda não são inerentemente automatizadas, mas bastante sujeitas a modificações transferenciais dinâmico conflitivas a cada vez que são recuperadas. Essa visão é compatível com conceitos dinâmicos de temporalidade psíquica e a noção Freudiana de Nachträglichkeit e memórias encobridoras. Também é compatível com as abordagens Freudianas contemporâneas e das Relações Objetais (Bion, Winnicott) para os enactments transferenciais, como subsimbólicos, mas "simbolizáveis" e, portanto, interpretáveis (Ellman, 2008; Grotstein, 2014 comunicação pessoal). A diferença entre as duas interpretações dos achados neurocientíficos parece estar relacionada à exclusão ou inclusão da interação dinâmica nos mundos representacionais internos, uma marca registrada da perspectiva psicanalítica. A renúncia a nossa visão de longa data, do inconsciente como um repositório para experiências indesejadas, implica naturalmente numa visão significativamente diferente sobre o papel do analista no consultório. Entendendo o apego como um correlato comportamental às relações objetais internalizadas sob a influência da relação mãe-bebê precoce (Diamond e Blatt 2007), outros estudos longitudinais contemporâneos objetivaram capturar o mundo representacional inicial. Estudo de Toth, Cicchetti, Rogosch e Sturge-Apple (2009) sobre a Depressão Materna,
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