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ser prontamente solucionado porque – não há outra forma de expressá-lo – elas estão localizadas na mente do sujeito de tal maneira que não podem vir à tona uma contra a outra.” (Freud, 1913, p. 47). Aqui Freud expõe a ideia de que, além dos conflitos entre ideias e afetos, há também um conflito dentro das próprias emoções. A ideia de ambivalência emocional exposta aqui poderia ser vista como um fenômeno que ocorre dentro de um contexto de relações de objeto rudimentares, que define esse período do pensamento de Freud. Nesse momento, sua teoria gira em torno do início de sua conceitualização a respeito do narcisismo (Freud, 1914), um dos pontos de partida de muitas teorias de relação de objeto. Aqui, o conflito assume a forma de luta entre investimento no eu versus investimento no objeto, ou, como Freud coloca, entre narcisismo e escolha de objeto. Isso se torna particularmente importante no seu trabalho a respeito da perda, da identificação e da posterior elaboração dos conflitos dentro do ego, em “Luto e Melancolia” (Freud, 1917). Freud escreve que a mente não suporta a perda de algo valioso e necessário, de modo que quando há uma perda no mundo externo, esse objeto é incorporado à fantasia e passa a existir no mundo interno; uma maneira de negar sua ausência no mundo externo. Ele escreve: “O conflito dentro do ego, que a melancolia substitui pela luta pelo objeto, deve atuar como uma ferida dolorosa...” (Freud, 1917, p. 263). A partir de outro ponto de vista, poderíamos nos referir à esta como uma luta pela integração da ausência, o que se torna mais tarde uma dimensão importante no pensamento de Lacan. O período seguinte do pensamento Freudiano, dentro da Teoria Topográfica, começa com “Além do Princípio do Prazer” (1920). Aqui, a pulsão agressiva foi agregada à pulsão sexual e o conflito passou a ser conceituado como pulsão instintiva versus defesa/repressão (Freud, 1920). Defesas de vários tipos foram associadas a diferentes estágios do desenvolvimento da personalidade. A angústia continuou a ser vista como resultante da repressão (Primeira teoria da angústia). A repressão era utilizada, principalmente, como sinônimo de defesa. Em “Além do Princípio do Prazer”, Freud (1920) introduz o que ele agora considera ser o conflito primário na mente, aquele entre a vida e a morte, na forma de instintos que buscam renovar a vida e os instintos que procuram repetir o trauma, o conflito entre a criação de unidades superiores e o retorno à matéria inorgânica. Ao discutir as reviravoltas pelas quais passou o desenvolvimento da sua teoria dos instintos ao longo dos anos, Freud expressa claramente a sua principal perspectiva a respeito do conflito: “Nossas concepções, desde o início, foram dualistas ...” (p. 63). Aqui também Freud define desenvolvimento como o resultado do conflito. Referindo- se ao “instinto para a perfeição”, ele nos diz: “Os fenômenos que lhe são atribuídos parecem passíveis de explicação por esses esforços de Eros, tomados em conjunto com os resultados da repressão” (Freud, 1920, p. 53). O conflito entre Eros e a repressão de Eros cria o desejo de superação que aumenta a capacidade de sublimação, apontada por Freud já em seu trabalho sobre Leonardo da Vinci (Freud, 1910), que inaugura a psicanálise aplicada.
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