Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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Entre os brasileiros que têm contribuído para a noção de setting , Fabio Hermann (1991) é um pensador importante que também o vê como uma moldura. Analistas estabelecem essa moldura em sua prática clínica para evitar perder seu método durante o curso do processo analítico. Essa moldura funciona como uma cerca voltada para fora. Ela não protege a análise contra a invasão do mundo externo: tal tarefa é impossível, pois o mundo externo já está presente no consultório junto ao analista e ao paciente. Ainda assim, a moldura protege a dupla analítica de uma forma rotinizada de pensamento. O ponto crucial da teoria de Hermann é a noção de ruptura do campo, que pode ser entendida como um momento em uma análise em que o analisando é capaz de perceber uma representação de si que estava sendo impedida de emergir. A ruptura do campo de comunicação existente, de acordo com esse autor, constitui a marca do processo analítico. É dentro da cerca do setting que os analisandos se tornam conscientes de uma percepção diferente deles mesmos. Eizirik, Correa, Nogueira et al. (2000) desenvolveram a ideia de que o contexto social atual carrega características específicas, e que suas repercussões no setting analítico devem ser respeitadas. Eles afirmam que o treinamento analítico exerce um papel-chave na constituição da identidade analítica, que deve incluir a atitude do analista no sentido da preservação do setting – ser uma espécie de guardião. Eles compartilham a visão de Green a respeito da função do setting: ser um terceiro que deve estar presente explicita ou implicitamente em qualquer relação humana com o objetivo de evitar que ela se torne psicótica. Além disso, esses autores enfatizam a importância do conceito de setting interno, o qual possibilita aos analistas gerenciar a preservação do setting no contexto social atual. Marcio de Freitas Giovannetti (2006), seguindo Derrida, alude à atual hospitalidade dos analistas. Tal abordagem representa uma perspectiva bastante contemporânea dentro do debate psicanalítico na América Latina. Freitas Giovannetti sustenta a ideia de que, na prática clínica atual, é necessário um setting mais factível do que tradicional. No mundo de hoje, onde a ideia da velocidade e da aceleração do tempo substituiu a noção da permanência, se o setting clássico for introduzido aos pacientes, há o risco de obstaculizar o desenvolvimento de qualquer forma de análise. Para esse autor, um dos papéis primários do analista é o estabelecimento gradual de um setting factível que permita o progresso da análise. Os analistas devem esforçar-se para transformar um espaço virtual, sem fronteiras, em um lugar – um lugar de existência real, não virtual.

VII. O SETTING EM DICIONÁRIOS PSICANALÍTICOS

É significativo que não haja um verbete para “ setting ” em muitos dicionários psicanalíticos frequentemente consultados. A despeito disso, alguns dos elementos do conceito “ setting ” podem ser encontrados nesses dicionários: associação livre, atenção flutuante, abstinência, neutralidade e técnica. As únicas exceções que contêm “ Setting ” ou um termo

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