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Bion atinge esta ampliação a Freud e Klein ao transportar os conflitos instintivos em conflitos mentais análogos entre K e menos K. Isto está presente em seu artigo de 1955 “Language and the Schizophrenic”, onde ele reinterpreta o complexo de castração de Freud – o medo da perda dos genitais – como algo que também ocorre com o ego, onde, segundo o ponto de vista desenvolvido em “Aprendendo com a Experiência” e “Elementos de Psicanálise”, a castração das funções mentais do ego conectadas com pensamento se efetua por menos K. A medida que Bion desenvolveu a sua teoria, o conflito entre K e menos K se expandiu, convertendo-se em uma categoria mais ampla, da verdade contra a mentira. Esta, por sua vez, se conectou com o conceito de experiência, desenvolvido por ele próprio (Bion, 1959, 1962b). A experiência se torna um teste para a verdade, em função da habilidade ou capacidade que temos de ter de nos comprometermos e vivermos a própria experiência. Para Bion a razão não é a verdade, mas sim a experiência, mais precisamente a nossa experiência emocional. O seu trabalho inicial estava voltado em desenvolver a capacidade de pensar a nossa experiência emocional, enquanto mais tarde o seu trabalho se voltou em ser capaz de ter uma experiência emocional, ou, paradoxalmente, de ser capaz de experienciar a própria experiência. Bion (1965, 1970) diferencia este estado de K, designando-o O. K representa conhecimento sobre a própria experiência, enquanto O significa o nível mais profundo de quem somos, que nunca pode ser totalmente compreendido pela mente consciente, mas pode ser experienciado. O representa o desconhecido. O conflito é entre K e O – entre ser e conhecer (Taylor, 2011; Tabakin, 2015). Posteriormente, o conflito para Bion é aquele que pertence ao conhecido e desconhecido, à certeza e à incerteza. A postura analítica de Bion em relação ao cumprimento de sua estética clínica de emergência requer uma nova postura do analista. Ao ampliar as ideias de Freud com respeito a técnica da atenção flutuante e aceitação objetiva do que quer que seja o material trazido pelo paciente, Bion sugere desenvolver outro estado de mente, aberto à reverie. Este requer que os elementos “conhecedores”, presentes na memória e no desejo, sejam suspensos, de maneira a que o analista possa atingir o estado de mente de “Capacidade Negativa” descrito pelo poeta Keats, ou seja, quando um homem é capaz de permanecer nas incertezas, mistérios, dúvidas, sem nenhuma busca irritante dos fatos e razões” (Bion,1970, p. 125). Assim, Bion é visto caminhando em direção à uma resolução dialética, uma suprassunção (N.T.: no Brasil esta é a tradução para o termo Aufhebung de Hegel. Em: Ataíde, G. (2015). Hegel e Freud: a Aufhebung hegeliana na denegação (Verneinung) freudiana. http://dx.doi.org10.4322/201510252328), na terminologia de Hegel (Rosen, 2014, pp. 138-9), de conflitos inatos, quando desenvolvemos um estado de mente que tolera o interjogo entre os elementos e configurações PS (esquizoparanoide) e D (depressivo), significados por ele como PS<=>D. Assim, o Bion dos últimos anos não abandona a premissa do conflito como emersão; ao contrário, a emersão é situada na relação dialética com o conflito.
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