Retornar ao sumário
Em sua publicação de 1970 "Atenção e interpretação” ( NT: O título referido no original em inglês é “Attention and Interpretation: A Scientific Approach to Insight in Psychoanalysis Groups”), Bion resumiu e desenvolveu ainda mais seu sistema teórico, sua contribuição em “Continência” pareceu modesta, mas progressivamente se tornou um novo conceito organizacional para a psicanálise. Permitiu que analistas e terapeutas “de ambos os lados do corredor” usassem uma linguagem comum sobre comunicação pré-lexical afetiva entre a mãe e o bebê. Bion parecia ter aberto um caminho significativamente novo para o vértice da topografia mental com seu "Continente/Contido", juntamente com sua reorganização das funções L (amor), H (ódio) e K (conhecimento), que deveriam servir e interagir com Continente/Contido. Para isso a natureza da interação que ocorre tanto dentro do eu como entre o self e o(s) objeto(s) limitou-se à operação de introjeção e projeção (posteriormente identificação introjetiva e projetiva). Essas duas últimas funções foram as precursoras do desenvolvimento de todos os mecanismos de defesa subsequentes, tipificando as limitações do modelo de psicanálise de uma única pessoa, que sustentava que a estrutura intrapsíquica era constituída apenas pelas representações do sujeito. Em Continente/Contido, Bion desenvolveu uma epistemologia única da comunicação básica entre mãe e bebê, na qual o processo incipiente de pensamento começa com a identificação projetiva dos "pensamentos (emoções) do bebê sem um pensador" (Bion 1970, p. 104) (NT: Tradução livre a partir do texto em inglês) em sua mãe como um continente, cuja reverie e função alfa os transforma em pensamentos concebíveis, sentimentos, sonhos e memórias. Através dessa comunicação, a função alfa do bebê amadurece, já que “ele começa a pensar por si mesmo projetando-se em seu continente interno- objeto com sua própria função alfa...” (Grotstein, 2005, p 1056) (NT: Tradução livre a partir do texto em inglês). Em termos de desenvolvimento e clinicamente, a função Continente/ Contido se desloca por inversão, dialogicamente, entre os dois participantes. Na opinião de Grotstein (2005), o time continente projeção-mãe-bebê representa um modelo irredutível de duas pessoas, a partir do qual os modelos de uma pessoa baseados em projeção, introjeção e/ou identificação projetiva podem vir a ser consequência de falhas na Continência. Em seu análogo clínico, o modelo de duas pessoas Continente/Contido inclui a presença e as atividades do analista, embora permaneça centrado no analisando. Uma vez que a cena psicanalítica interativa é ampliada para duas pessoas, num panorama tridimensional, a perspectiva intersubjetiva ("vértice") poderia ser explorada. A Continência poderia agora ser vista como proliferando muitos, se não todos, os fenômenos de transferência/contratransferência, tornando-se um elo latente ("ordem oculta") entre os dois (Grotstein, 2011b). Em algumas de suas excursões altamente teóricas, Bion (1965, 1970, 1992) vincula o conceito de Continência às Formas Ideais de Platão e às Coisas-em-Si de Kant. Aqui, o sujeito projetante ativa os análogos específicos de Continente/Contido com a panóplia de L, H e K, dormentes em sua condição universal pré-existente das Formas Ideais e Coisas-em-Si.
74
Made with FlippingBook - Online catalogs