Dicionário Enciclopédico de Psicanálise da IPA

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IV. DESENVOLVIMENTO PÓS-BION

Os psicanalistas pós Bion discutiram, elaboraram e aprofundaram o desenvolvimento de várias dimensões do modelo Continente-Contido. Alguns exemplos de tais elaborações e desenvolvimentos adicionais, abrangendo globalmente várias regiões psicanalíticas estão citados abaixo. Na Inglaterra, Ronald Britton (1998) enfatizou como as palavras fornecem um contêiner para uma experiência emocional criando um "limite semântico" ao seu redor, enquanto a própria situação analítica fornece um "mundo delimitado" e um lugar onde o significado pode ser encontrado. Ele também desenvolve uma relação mutuamente destrutiva de continente-contido, "continência maligna", na qual o sujeito que se depara com a introdução de uma nova ideia pode imaginar apenas duas alternativas (catastróficas), "encarceramento ou fragmentação". O estudo de Betty Joseph enfatizou os aspectos comunicativos da identificação projetiva, a fim de manter o equilíbrio psíquico, e a possibilidade desse processo levar à mudança psíquica, se contida (Joseph 1989). Analistas norte-americanos como James Grotstein (1981, 2005), Robert Caper (1999) e Thomas Ogden (2004) também fizeram contribuições substanciais para o conceito. Especificando os processos de transmissão dentro da comunicação pré-lexical Continente/Contido, Grotstein desenvolveu o conceito de "transidentificação projetiva": “Assim, quando o analista atua como um Continente para as experiências do analisando; o analisando inconscientemente identifica projetivamente seu estado emocional em sua imagem de analista com a esperança de se livrar de uma dor e de induzir esse estado no analista manipulando sua imagem... O analista, que está disposto a ser um coparticipante útil nesta joint venture , torna-se aberto e receptivo... Isso... resulta na contra criação do analista de sua própria imagem através das projeções do analisando ...” (Grotstein, 2005, p. 1064) (NT: Tradução livre a partir do texto em inglês). Caper destacou como um elemento-chave de continência envolve a capacidade do objeto que recebe a projeção de manter uma atitude realista em relação à parte projetada, a fim de poder refletir sobre a mesma, desenvolvendo-a de uma forma mais controlável. Isso ele entende como ir além da mera exploração, que visa principalmente apoiar o narcisismo do paciente. O trabalho de Thomas Ogden concentrou-se nas subjetividades interativas envolvidas na identificação projetiva. O modelo Continente-Contido agora é amplamente aceito não apenas dentro, mas também fora do grupo Kleiniano. Entre outros, Arnold Modell (1989) destacou a função Continente do cenário psicanalítico como um todo. Judith Mitrani (1999, 2001) elaborou a importância da função Continente do analista dentro dos paradigmas de transferência e contratransferência, para várias condições de desenvolvimento e (psico)somáticas. O modelo franco-canadense contemporâneo de Louis Brunet (2010), um exemplo da síntese do pensamento de ambos " Late Bionian" (Grotstein, 2005) e French (De M'Uzan, 1994) sobre o assunto, oferece uma construção clínica específica deste conceito. Neste caso, Continência possui aspectos “fantasmáticos” e “reais” que devem ser entendidos em conjunto. Existem aspectos intrapsíquicos e “fantasmáticos” na psique do paciente e do analista,

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