Nº 48 - Regime Fiscal Sustentável

de produtiva, o que as levam a recorrerem aos bancos múltiplos, que concentram uma gran- de movimentação/circulação de capital-din - heiro, sejam como intermediários de fundos já poupados, sejam como estruturadores de fundos rotativos. Assim, o estreitamento de relações (via participações acionárias cruzadas) entre as empresas não-financeiras e os bancos reduz os custos dos investimentos das empresas não financeiras, as quais, em processo contínuo e crescente de reciprocidades, centralizam suas movimentações bancárias naquelas instituições financeiras parceiras, o que resulta na sustentação e na realimentação dos fundos rotativos para financiar novas aplicações. Em suma: o movimento da conglomeração financeira, além de acompanhar e consolidar a concentração bancária e de criar um mercado financeiro nacional, contemplando os segmentos não-monetários, possibilita, aos principais conglomerados financeiros (ou Bancos Universais Contemporâneos), aumentarem seu poder de mercado e, por meio de suas várias instituições, participarem, ou até mesmo deterem o controle acionário de empresas de várias atividades, entre as quais: indústrias, empreendimentos imobiliários, comerciais e hoteleiros. Os cinco grandes conglomerados finan - ceiros (Banco do Brasil, Caixa Econômica Fede- ral, Bradesco, Itaú-Unibanco e Santander) estão configurados como verdadeiros Bancos Univer - sais Contemporâneos. Reúnem as condições necessárias e suficientes para estruturar fundos rotativos (finance) baseados em parcelas de cap - tação de recursos com compromissos de curto

prazo (depósitos à vista e aplicações financei - ras, em fundos rotativos), que podem propor- cionar empréstimo de curto e de médio prazo para capital de giro para empresas de qualquer porte, empréstimos-ponte para pré-investimen- tos, crédito direto ao consumidor para pessoas físicas. Também podem trabalhar com linhas de crédito de longo prazo e lançamentos de títulos mobiliários (debêntures, fundos de investimen- tos em participações, fundos de investimentos imobiliários, IPOs, etc), seja para substituírem os empréstimos de curto prazo por mecanismos fi - nanceiros adequados quanto a prazos de amorti- zações e encargos financeiros, seja para promo - ver investimentos em diversificação, expansão e modernização da estrutura produtiva, seja para viabilizarem projetos de infraestrutura (logísticas de distribuição, telecomunicações, matriz ener- gética, saneamento básico, mobilidade urbana). Em uma estrutura setorial altamente oli- gopolizada, cabe aos Bancos Públicos Universais (como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Fe- deral, o Banco do Nordeste do Brasil e o Banco da Amazônia) tomar a iniciativa de redução de spreads e de outros encargos financeiros, com duplo objetivo: diferenciação estratégica, tanto para ampliarem suas participações no mercado financeiro quanto para exercerem suas funções como bancos governamentais, induzirem o siste- ma financeiro como um todo, ao exercício de seu verdadeiro papel como um dos principais mo- tores do processo de desenvolvimento em seu mais amplo sentido: promoção do crescimento econômico sem prejuízo do controle da inflação e, ao mesmo tempo, reduzindo desigualdades sociais e regionais.

Economista pela UFMG, mestre em Desenvolvimento e Planejamento Regional e doutor em economia pela UFRJ. Criador e gestor do FUNDEC (Fundo de Desenvolvimento Comunitário Rural) do Banco do Brasil. Cézar Manoel de Medeiros

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ABRIL A JUNHO DE 2023 | REVISTA ECONOMISTAS |

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