Nº 51 - Revista Economistas - Março

considerado um “trabalho produtivo” e, portanto, gerador de riqueza e valor para o mercado. Isso ocorre porque o tempo dedicado ao trabalho de cuidado, que garante a sustentação e manutenção da vida (saúde, educação, etc.) de todas as pessoas do núcleo familiar (crianças, adultos, idosos, pessoas enfermas e com deficiência - PcD), é dado como uma obrigação da função social da mulher, revestido de fatores emocionais como afeto e amor. Além disso, a invisibilidade do trabalho e a falta de regulamentação, valorização e reconhecimento das ações geradas pelas trabalhadoras do cuidado impossibilitam que o sistema produtivo incorpore tal valor. Trabalhadoras domésticas (cozinheira, faxineira, babá), da educação (professora, creche) e da saúde (enfermeira, fisioterapeuta) seguem lutando por condições de trabalho decentes, com instrumentos adequados, registro na Carteira de

Trabalho (piso salarial, FGTS) e direito à aposenta- doria (INSS). Na pandemia, esses trabalhos foram considerados essenciais e, não à toa, sustentaram o funcionamento dos demais setores econômicos. Segundo estudos da Think Olga, 93% das tra- balhadores domésticos da América Latina são mulheres. Durante a pandemia, 58% das mulheres que ficaram desempregadas no Brasil são negras e 47,8% das mulheres negras têm trabalho informal. Isso mostra outro fator importante: a Economia do Cuidado tem gênero e raça (mulheres e negras) no Brasil. Com base no Censo 2022, a população idosa brasileira (65+) cresceu 57,4% em 12 anos. O índice de envelhecimento aponta que há 80 idosos (60+) para cada 100 crianças (de 0 a 14 anos). Essa população demanda cuidados específicos e profissionais qualificados, cujo tempo de trabalho se equipara à jornada de um empregado CLT (40 horas semanais).

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