Nº 51 - Revista Economistas - Março

do Prêmio Nobel de Economia, em 2009 e 2019, respectivamente. Enquanto Ostrom estudou questões relativas à gestão comunal e impactos ambientais e econômicos, Duflo estuda a questão da pobreza e desenvolvimento econômico. O que se pode observar é que as poucas mulheres estudadas com mais frequência na ciência econômica não direcionaram suas pesquisas e escritos para a situação das mulheres na economia. A ganhadora do Nobel de Economia de 2023, Claudia Goldin, foi a primeira a ganhar o prêmio com um estudo sobre as diferenças salariais entre homens e mulheres nos Estados Unidos. Contudo, esse estudo não é, nem de longe, pioneiro. A pesquisadora Lana Dalley reuniu mais de uma centena de escritos de mulheres do século XIX sobre economia e gênero, publicados em jornais e revistas, em quatro volumes do seu livro “Women's Economic Writing in the Nineteenth Century” (Escritos econômicos de mulheres no éculo XIX, tradução livre). Os textos variam de trabalho doméstico, cuidados com filhos e necessidade de trabalho profissional, papel na indústria, remuneração das mulheres pretas, entre

outros. A variedade é enorme. Nunca li nada do tipo na graduação e acredito que a imensa maioria dos discentes do curso de ciências econômicas também não. Portanto, não é ausência de produção textual das mulheres, tampouco falta de participação ativa delas na compreensão da economia. A ciência econômica tradicional, tal qual a conhecemos ainda hoje, foi formada muito mais pelo pensamento e menos pela ação. Pensada e estudada por homens, em um mundo dominado por homens, que a compreendem com olhar de homens, a economia é uma ciência androcêntrica. Daqui parto para o segundo ponto: o ensino da economia com olhar de gênero. Mais especificamente, o ensino da economia feminista, que difere da economia de gênero por se negar a utilizar o arcabouço teórico, metodológico e instrumental da ciência econômica tradicional (a recente ganhadora do Nobel, Claudia Goldin, é mais associada a essa vertente). A economia feminista busca retirar o androcentrismo da nossa ciência, ampliando a compreensão e objetividade ao inserir a existência

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