Nº 48 - Regime Fiscal Sustentável

uma estratégia de desenvolvimento que tenha em conta, por exemplo, os riscos da destruição e da precarização do emprego, que garanta o crescimento sustentável ambientalmente e que promova a inclusão social. Foi também discutido o uso de subsídios e de instrumentos de compras públicas para fins estratégicos como investimentos em infraestrutura sustentável, saúde, inovação, reindustrialização, segurança alimentar e transição energética. O segundo evento promovido se deu no dia da Industria, 25 de maio, desta vez, na sede da FIESP, em São Paulo². O seminário, intitulado “Indústria Forte, País Forte”, partiu do reconhecimento que pelo menos desde a crise financeira de 2007-2008 é possível reconhecer um retorno da política industrial ao centro do debate sobre desenvolvimento. Isso é visível em diversos países, podendo ser citadas iniciativas nos EUA (Advanced Manufacturing, Chips Act, Inflation Reduction Act - IRA), na Alemanha (High Tech Strategy, com foco em Indústria 4.0 e outros), na China (Made in China 2025), no Japão (New Robot Strategy e 6th Science and Technology Basic Plan), além de outros países como França, Coreia do Sul, Índia, Austrália. Esse seminário trouxe o prof. Robert Wade (Prêmio Leontief 2008), o prof. Mario Cimo - li (Professor da Escola de Estudos Avançados de Sant’Anna Pisa), e contou com a participação vir- tual do prof. José Gabriel Palma (professor emé- rito de Economia da Universidade de Cambridge), e da prof. Mariana Mazzucato. As principais men- sagens desses palestrantes foram:

1) a América Latina (AL) é a região atual de pior crescimento da produtividade (entre 1950-80 esteva entre as que mais crescia). Vivemos na AL uma trilogia tóxica com alta desigualdade, baixo crescimento da produtividade e baixos investimentos. É preciso propor uma política industrial que seja capaz de impulsionar a produtividade e, ao mesmo tempo, gere empregos. Não bastam subsídios e incentivos - é necessário impor condicionalidades, a exemplo de experiências asiáticas de desenvolvimento; 2) há um movimento generalizado nos países desenvolvidos de retorno de política industrial que se dá em resposta a um contexto geopolítico específico de rivalidade sino-americana. Será preciso ao Brasil se reposicionar estrategicamente nesse novo mundo, repensando cadeias de valor; 3) o debate de política industrial não mais deve ser sobre políticas horizontais (iguais para todos os setores) ou verticais (setoriais), mas sim discutir quais são os grandes desafios a serem priorizados (missões), que devem combinar diversos setores e múltiplos atores em torno de questões socialmente relevantes. Devem ser introduzidas também condicionalidades para investimentos públicos, subsídios, garantias de forma a mudar as práticas das empresas em direção às emissões mais baixas, melhores condições de trabalho e menos recompras de ações;

Predizer o futuro é tarefa impossível, mas são ta- refas nobres e necessárias construir diagnósticos sobre o presente, apontar tendências e incertezas futuras e, sobretudo, discutir quais as ações que, tomadas hoje, nos permitem construir amanhãs mais promissores - e evitar futuros desastrosos."

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| REVISTA ECONOMISTAS | ABRIL A JUNHO DE 2023

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