Nº 48 - Regime Fiscal Sustentável

A visão heterodoxa, muito pelo contrário, acha que os gastos ou a demanda estimulam a decisão de investir, porque aumentam de forma multiplicada renda e emprego na economia. Isto ocorre porque a decisão de investir depende do que o investidor espera ganhar no futuro com o investimento, relativamente ao custo do mesmo, para o qual a taxa de juros é fundamental. Se a renda da economia está crescendo e o desemprego diminuindo, é de se presumir que a rentabilidade esperada seja alta e, para maior número de investidores potenciais, a decisão de investir compense. Uma vez concretizado o investimento, ele aumenta novamente a renda e o emprego de forma multiplicada. Mas como garantir os primeiros investimentos, que forneçam as primeiras decisões privadas de investir, quando a economia não vai bem, quando há muito desemprego e deterioração das condições de renda em geral, como é o caso do Brasil neste momento? Temos duas possibilidades. A rentabilidade pode crescer se houver investimento público, que pode crescer mesmo em fases ruins, porque o Governo não visa lucro e, por isso, não precisa comparar rentabilidade esperada com custo. Uma vez o investimento público realizado, ele gera renda e emprego de forma multiplicada e, com isso, melhora as expectativas de lucro dos empresários que, então, decidem investir. O investimento público é, assim, a primeira e mais efetiva forma de estimular o investimento privado. Aliás, a

história econômica brasileira é testemunha de que o investimento público é responsável pelos vários surtos positivos importantes de investimento privado. Assim, temos outra divergência entre a teoria ortodoxa neoliberal e a teoria heterodoxa desenvolvimentista: a primeira acha que o investimento privado inibe o investimento público, enquanto a última vê o investimento público como essencial para alavancar o investimento privado. A segunda (e mais rápida) forma de estimular o investimento privado é a queda da taxa de juros, porque para um maior número de investidores potenciais a rentabilidade esperada estará acima da taxa de juros (que indica o custo do investimento) e a decisão de investir será tomada. No Brasil, com a independência do Banco Central, ela se constitui um problema. A visão do presidente do Banco Central é ortodoxa, neoliberal. Além de argumentar com a "fada da confiança", ele acredita que baixar a taxa de juros só conseguirá aumentar a inflação. Também aí se tem uma opinião diferente da heterodoxia. Os ortodoxos acham que juros baixos aumentam a demanda e provocam inflação. Isso somente ocorrerá se a produção não crescer também. Os ortodoxos acham que a produção não aumenta de forma duradoura, porque supõem que os investimentos não ampliem a capacidade produtiva da economia. Essa conclusão depende de um pressuposto, chamado neutralidade da moeda,

O investimento público é, assim, a primeira e mais efetiva forma de estimular o investimento privado. Aliás, a história econômica brasileira é testemunha de que o investimento público é responsável pelos vários surtos positivos importantes de investimento privado."

8

| REVISTA ECONOMISTAS | ABRIL A JUNHO DE 2023

Made with FlippingBook Ebook Creator